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O sonho do André


André tinha um sonho. Adorava brincar ao ar livre, nos jardins e parques da cidade. Gostava de saltar de pedra em pedra, como se estivesse a jogar na calçada portuguesa, mas, sempre que o fazia, sentia-se um bocadinho triste.

E sabem o que o fazia sentir-se assim? O lixo espalhado pelo chão. André gostaria de ter uma vassoura mágica que varresse tudo ou uma borracha gigante que apagasse o lixo e um pincel para voltar a colorir de verde os jardins e de cinzento os passeios.

Não conseguia perceber por que razão as pessoas deitavam lixo no chão quando havia caixotes espalhados pela cidade. Gostava de pensar que as pessoas não podiam ser tão descuidadas assim. Imaginava que existia um monstro do lixo que, ao tentar comer o lixo dos caixotes, deixava cair pelo chão pacotes de sumo, latas de cerveja e muitas outras coisas.

Certo dia, na escola, a professora pediu a todos que desenhassem o que gostariam de ser quando fossem grandes e escrevessem um pequeno texto sobre isso como trabalho de casa.

No caminho para casa, André veio muito pensativo no carro, e o seu pai perguntou-lhe:

- André, está tudo bem

- Está...

O pai não ficou muito convencido, porque a voz de André denunciava-o.

No fim de semana, na hora de fazer os trabalhos de casa, a sua mãe perguntou se ele precisava de ajuda.

- Humm... Sim, mãe, acho que sim!

- Então, o que tens para fazer?

- A professora quer que eu desenhe e escreva sobre o que gostaria de ser quando fosse grande.

- Que giro! E já pensaste sobre o assunto?

- Já, mas tenho vergonha...

- Vergonha de quê?

- Que os meus colegas gozem comigo. Eles ficaram todos entusiasmados e só falavam sobre isso no recreio. Uns queriam ser futebolistas, médicos, bombeiros, polícias e até astronautas. Tudo profissões fixes.

- E tu, André? Não gostarias de ser nada disso?

- Não, mãe! Eu sei o que gostaria de fazer, mas se o puser no trabalho de casa vão gozar comigo.

- E o que era?

A sua voz ficou trémula e lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto.

- Eu gostaria de acabar com o lixo das ruas! Gostaria de ter uma vassoura mágica que limpasse tudo ou uma borracha que o apagasse e um pincel colorido que voltasse a pintar de verde os jardins e de cinzento os passeios.

- Humm! Gostavas de ser um mágico ambiental!

- Sim, é isso! Mas, mãe, esse é que é o problema... Isso não existe!

- Sabes, filho, pelo mundo fora, todos os dias surgem profissões novas. O mundo está sempre a mudar. Lembras-te daqueles livros de magia que tens no teu quarto? 

- Sim, mas aquilo não é magia, mãe! Tu explicaste-me que são apenas experiências científicas ou ilusões de... de...

 - Ilusões de óptica!

- Sim, isso!

 - Espera, mãe! Deste-me uma ideia! Afinal, já sei o que quero ser! Obrigado!

André correu para o quarto e começou a desenhar e a escrever. Passado algum tempo, chamou os pais para lhes mostrar.

- Pai, mãe, olhem o que eu fiz!

Na folha em branco do seu caderno, estava desenhada uma cidade, com ruas, postes de eletricidade, carros, casas e jardins. No meio do jardim, estava um homem vestido de branco com uma máquina estranha. Era redonda, grande, com um painel cinzento gigante no topo e um tubo enorme. Debaixo do desenho, Francisco escreveu: "Eu gostaria de ser cientista ambiental e criar um robot que limpasse o lixo das cidades sozinho. Um robot com painéis solares."

Os seus pais ficaram orgulhosos, com os olhos húmidos de emoção.

 - Parabéns, filho! Estamos muito orgulhosos de ti!

Na segunda-feira, quando André mostrou o seu desenho à professora, recebeu muitos elogios. Tantos que um dos seus colegas teve uma ideia: 

- Podíamos criar máscaras de robots do lixo e ir para o recreio apanhar o lixo!

 - E podíamos fazer as máscaras com lixo reciclado, o que acham? - sugeriu André.

E assim foi. A imaginação tomou conta da escola e todos os professores aderiram à iniciativa. A Junta de Freguesia soube do projeto e pediu para alargar a limpeza ao recinto à volta da escola.

As crianças deram largas à criatividade e havia robots feitos de caixas de papelão de encomendas da Amazon, pacotes de leite colados uns aos outros, garrafões de plástico e até um com cabelo feito de esfregona velha.

Nesse dia, apareceu a televisão e ninguém estava à espera. A abertura da reportagem foi: 

"Hoje estamos aqui para mostrar a iniciativa de um menino, o André, que gostaria de um dia vir a ser cientista ambiental e criar robots que limpassem o lixo sozinhos. Como ainda não consegue faze-lo, teve uma ajudinha dos colegas e, em vez de um robot, surgiram dezenas de robots que limparam a zona envolvente desta escola de Lisboa. O presidente da Junta já decidiu que este dia se iria repetir todos os anos e passar-se-ia a chamar: O Dia do Robot Ambiental."

E assim, o sonho de André começou a tornar-se realidade!

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