
Triste e só vivia pelos prados, o Flufy, um pequeno cordeiro tresmalhado . Nunca percebeu porque ninguém brincava com ele e sua mãe o havia rejeitado à nascença. Quando era mais pequeno, bebeu leite dado pelo agricultor.
Um dia, pela hora do calor, um pequeno pardal pousou numa pedra ao seu lado. Partilhavam a sombra de carvalho.
-Olá! Estás aqui sozinho neste canto?
Não houve resposta, apenas um suspiro profundo.
-És surdo? Estou a falar contigo?
-Que queres? Deixa-me estar aqui sossegado! Queres partilhar a sombra, tudo bem. Não me importo. Agora deixa-me em paz!
-Puxa, percebo porque estás sozinho! Tens cá um mau feito!
-Sim tenho mau feitio! E porque não haveria de ter. Ninguém me liga nenhuma!!!
-Humm, então é por isso! E não sabes porquê?
-Não! Sabes?
-Olha, no final da tarde, quando o agricultor vier dar comida e água, vai ter comigo à pia!
-Para quê?
-Não faças perguntas! Vai ter comigo e pronto! Deixa-te de rabujices!!!
Ao longe, via-se as ondas de calor por cima da erva seca e Flufy adormeceu. Quando acordou, já a tarde ia longe e o calor já se estava a despedir. Foi despertado pelo ranger da cerca. A comida vinha ai e correu para a pia de água antes que os seus colegas cordeiros e ovelhas fossem.
Esperou, esperou mas só quando quase toda a gente tinha comido e bebido é que o pardal pousou num dos muros da pia. Só restava o cordeiro mais velho que bebia na outra ponta.
- Ainda bem que chegaste e agora?
- Sobe para aquela pedra que está junto à pia e olha lá para dentro!
Flufy assim fez. Quando olhou lá para dentro, viu dois cordeiros meio escuros a espreitar do outro lado da água. Um era branco e envelhecido e outro, mesmo por baixo de si, era preto e branco.
- Quem são aqueles dois cordeiros?
- O branco é o velho e o tresmalhado és tu.
- Eu?
-Sim, é a tua imagem! Tu és diferente dos outros cordeiros.
- Porquê?
- Todos somos diferentes. Vês o meu rabo? Nunca tive penas.
- O que te aconteceu?
-Fui atacado, quando era pequeno, no ninho por uma cobra e nunca mais nasceram.
- Humm e os outros pardais gostam de ti?
- No inicio não, mas um dia mostrei-lhes também os seus reflexos num riacho. Todos repararam que tinham diferenças: uns no bico, outros nas penas e até quem tivesse nas patas.
- A sério? Sim, agora cabe a ti fazer o mesmo.
No dia seguinte, logo de manhã Flufy, quando todos bebiam, falou bem alto:
- Abram os olhos enquanto bebem e olhem para baixo!
Todos ficaram boquiabertos e espantados!
- São vocês, reparem que são todos diferentes, uns mais acastanhados, uns com umas pintas no nariz, outros nas orelhas.
A partir desse dia, nunca mais se afastaram de Flufy e as diferenças de cada um passaram a ser a união de todos.
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