
As escadas eram velhas, de madeira, amarelecidas pelo tempo e em forma de caracol. Mariana subia, encostando as pequenas mãos à parede. A meio das escadas havia uma pequena janela. Era a única luz que existia e até dava às teias de aranha do tecto um certo brilho.
Não havia medo, apenas e sim, um enorme sentido de curiosidade sobre o que a esperava naquele sótão esquecido pelo tempo.
Assim que chegou, abriu a janela de madeira para ver o que a esperava. Espreitou lá para fora. A vista era por cima do telhado e ao longe via-se a Serra da Estrela, com o topo pintado de neve. Ficou ali uns momentos a ouvir os pardais e a apreciar a vista. Quando se virou sorriu e saltitou ou ao ver as preciosidades que a esperavam. Caixas empoeiradas, restos de roupa velha, objectos de decoração já não usados. Sempre gostou de inventar novos brinquedos a partir de coisas velhas. Tudo servia para despertar a sua imaginação. Encontrou um chapéu velho que seu avô usava e imaginou logo que era um cavaleiro e o seu cavalo uma velha vassoura de madeira.
-Mariana, Mariana, onde estás?- perguntava o seu avô, preocupado que tivesse caido e se magoado nalguma farripa de madeira do soalho.
-Estou no sótão, avó, vem cá.
-Que fazes aqui em cima?
-Avô, que chapéu tão giro e aquelas roupas velhas da avó e do avô, tão coloridas.
-Tive uma ideia Mariana, queres fazer um espantalho?
-O que é um espantalho, avô?
-É um boneco que fazemos para afastar os melros e pardais dos campos e evitar que comam o milho que avó acabou de plantar.
-Vamos, vamos!
-Então, encontra-me: dois paus, um casaco, uma camisa e umas calças e leva-me para a arrecadação.
Então assim fizeram, ataram dois paus, fazendo uma cruz. Vestiram-lhe a camisa e encheram-na de palha, deram um nó nos braços e na bainha da cintura. As calças foram também enchidas de palha e atadas nas pernas e na cintura. Ataram-nas à camisa.
-Agora, Mariana, veste o casaco e põe o chapéu!
-Mas avô, falta a cara?
-Pois falta, tens alguma ideia?
-Espera avô!
Mariana correu, subiu as escadas até a sala e voltou.
-Que tal esta bola de trapos que avó me fez ontem?
-Boa ideia Mariana.
O espantalho ganhou forma. A avó entretanto chegou de dar comida às galinhas.
-Que lindo espantalho. Mas não tem olhos nem boca? Esperem.
A Avó foi a sala e trouxe o cesto de costura de palha que tinha. Tirou dois botões vermelhos grandes e costurou à bola de trapos.Mariana, foi buscar as suas canetas de feltro e desenhou um sorriso.
Nesse final de tarde, foram os três ao quintal deixar o espantalho e regressaram para casa. A lareira aguardava-os.
O espantalho, ganhou, nome, Trapos, e todos os dias Mariana fazia-lhe uma visita e imaginava imensas aventuras em comum.
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