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Colas, o automobilista

imagem: net



Colas, o caracol aventureiro, sonhava andar de carro. Ficava horas nos arbustos junto a um parque de estacionamento, a olhar atentamente para os automóveis.
Imaginava-se colado nos vidros com os corninhos ao vento.
Nunca tinha tido coragem para subir a um carro. Era um grande percurso e podia ser perigoso. Já sabia que não podia estar nas rodas durante muito tempo porque podia ser esmagado. O ideal era optar por um que tivesse parado durante algum tempo.
Andou várias semanas a controlar os vários carros, os hábitos dos condutores e um dia escolheu um. Preparou toda a caminhada e decidiu partir. A sua família ficou preocupadíssima:
-És doido, nós somos caracóis e as ervas são a nossa casa. Aprendemos a vida toda sobre quais são os melhores esconderijos e os melhores manjares de verduras. Isso são coisas dos humanos.
Colas, não quis saber e ao anoitecer partiu. Quando chegou às rodas, ouviu:
-Quem tenta na minha casa entrar sem a mim se apresentar?
Colas, estremeceu, nunca conseguiu saber o que estava entre as rodas e o pára lamas.
-E sou o Colas, um caracol que queria andar com os corninhos ao vento, colado no vidro do carro.
Depois de alguns momentos de silêncio, ouviu-se uns passos ligeiros e junto a si apareceu uma aranha:
-Sabes que é muito perigoso o que pretendes fazer?
-Sei, mas é o meu sonho!
-Então espera que vou ali buscar uma coisa.
O tempo passou e Colas nem se mexeu. Quando a aranha voltou trazia consigo um mapa.
-O meu tetravô também tinha esse sonho e descobriu um sitio no vidro que é mais seguro, por causa dos limpa para brisas, sabes o que é?
-Aqueles paus nos vidros?
-Sim, são muito perigosos. Segue o caminho deste mapa e boa sorte!
O caracol partiu, pois já não tinha muito tempo. Andou, andou e quando chegou ao vidro, abriu o mapa. O melhor sítio era nos cantos superiores do vidro. Viu que já não faltava muito e resolver parar para descansar numas borrachas debaixo do vidro.
Acordou com o barulho do motor. Afinal, o dono do carro resolveu andar mais cedo. Já não havia nada a fazer. Agarrou-se com todas as suas forças e lá foi. O vento fazia-o sentir livre e depois de uns momentos esqueceu o perigo e sentiu-se muito, mas muito feliz.
O carro voltou ao lugar inicial já ao anoitecer. Colas resolveu regressar a casa, mas antes visitou a sua amiga aranha:
-Conseguiste? Ficaste no sítio do mapa?
-Não! Noutro local.


A aranha ficou espantada. Sempre ouviu na sua familia a história de seu tetra avô. Nunca pensou que houvesse outros locais seguros no vidro do carro.


O caminho para os sonhos nem sempre é o esperado por quem sonha nem por quem acompanha o sonhador. A experiência dos outros ajuda-nos a percorrer o caminho mas nem sempre a atingir objectivo, porque mesmo que se planeie tem que se estar preparado para os imprevistos.

Comentários

Unknown disse…
Lindo...É tão bom sonhar e se realizarmos os sonhos melhor ;)
Eva Gonçalves disse…
Esta é das tuas histórias mais bem conseguida, penso eu. Parabéns. Gostei muito desta. e ainda te deste ao trabalho de a "explicar" :) em jeito de moral da história... que adicionou um encanto inocente ao texto.
quanto ao conteúdo, é bem pertinente essa questão... podemos sonhar mas devemos estar preparados para imprevistos, alterações aos planos, aos trajectos, aos objectivos a médio e longo prazo. E por vezes, embora nesta história não o refiras, até podemos encontrar outro sonho pelo caminho! Beijinho

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