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Freddy, o dançarino


imagem: net
Tap! Tap! Click! Clack!
Ouvia-se de longe o barulho de Freddy, o coelho dançarino de Hip Hop, a treinar no quintal. Andava sempre vestido com umas calças largas, uma t-shirt rasgada e uns ténis brancos já muito desgastados de tanto dançar.
Seu irmão, Skinny, andava sempre a criticá-lo:
-Se em vez de andares por ai a andares de cabeça para baixo, a rodar e a fazer piões, deverias era usar o cérebro para melhorares as notas. – Alertava Skinny, o marrão da família.
Skinny era o filho perfeito. Tinha sempre excelentes notas. O seu traje preferido era o do colégio. Aliás, acho que nunca ninguém o via vestido com calças de ganga, a não ser nas férias.
Os resultados escolares dos dois irmãos eram claramente diferentes, como seria de esperar. Os pais, tinham o Skinny como o preferido e o Freddy como a ovelha negra.
Esta situação não preocupava o nosso dançarino. Sempre que ouvia Hip-Hop, era como se noutro mundo entrasse.
-Freddy, vem almoçar! – Ouvia-se a sua mãe, a gritar da janela da cozinha para o quintal.
-Freddy, a comida arrefece – Repetia.
Para conseguir faze-lo voltar à realidade, tinha que ir lá, tirar-lhe os phones, que seu avô lhe tinha oferecido, dos ouvidos e puxá-lo por um braço.
Um dia, tiveram uma mudança no bairro: uma senhora de idade, muito bem composta e com uma postura de fazer inveja a muitos jovens de 20 anos que passavam horas à frente do computador.
O bairro era como se uma aldeia pequena se tratasse. A curiosidade acerca das origens de tão distinta senhora fazia cócegas nas gargantas de muita gente.
Numa tarde de primavera, enquanto Freddy, dançava e dançava no seu mundo, a bela senhora aproximou-se da vedação e ficou algum tempo a observá-lo com atenção.
No meio de um rodopio, o coelho reparou que o observava e resolveu perguntar:
-Olá, minha senhora? Gosta de dança? – Perguntou Freddy.
O nosso dançarino era extremamente bem-educado. Nunca conseguiu aderir à gíria dos colegas. O que, era de certa forma um contra censo.
- Danças bem, muito bem mesmo. Aonde aprendeste?
- Não sei! Acho que sozinho, creio!
-Danças Hip-Hop?
-Sim, quer ouvir?
Freddy colocou os phones nos ouvidos da idosa.
A senhora, começou a mexer-se, a embalar-se e de repente, dá um salto por cima da vedação e começa a dançar no quintal do coelho.
Boquiaberto, Freddy correu a apanha-la e tirou os phones, com receio que ela se magoasse.
-Não tão bem como tu mas chego lá!-exclamou a senhora.
- Ohh, eu danço assim, sempre que ponho os phones do meu avô. São mágicos!
- A sério?
-Sim, sabe, eu não sabia dançar. Um dia para uma peça da escola, foi pedido que dançássemos mas eu nem conseguia mexer os meus pés. O meu avô, ao ver-me cabisbaixo, ofereceu-me estes phones e disse:
-Freddy, toma estes phones, são mágicos!
-Avô, isso não existe!
-Não duvides! A sério, coloca os phones!
Assim que os coloquei, comecei a dançar.
-Nunca experimentas-te dançar sem eles?
-Não! Acha? Tenho pés de chumbo.
-Espera uns momentos!
A senhora de idade, foi a sua casa e voltou passados uns minutos com um rádio com cassetes nas mãos.
-Ainda existem cassetes?
-Claro! Agora ouve!
Colocou o rádio em cima do alpendre e carregou no Play. Quando o som começou a tocar, a senhora descalça os chinelos e começa a dançar.
Freddy, ficou quieto a olhar com medo de se mexer. A senhora, agarrou-lhe a mão e puxou-o.
Sem saber muito bem como, Freddy mexia-se bem, sem phones especiais, apenas com a magia da música.

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