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imagem: net |
- Olha o manjerico! Que linda menina! Moço, ofereça-lhe uma rima jeitosinha! No Santo António ou São João, o manjerico não falta não!
-Quem quer o tremoço? Não engorda e não tem osso!
Apregoava, Dona Maria nas ruas de Lisboa, no dia 12 de Junho. Era uma das poucas pessoas que ainda o fazia. Vendia de tudo um pouco: gelados no Verão, castanhas no Inverno e nas festas populares manjericos e tremoços.
Lisboa cheirava a sardinha assada embebida em sangria! As janelas da zona histórica estavam enfeitadas com balões, manjericos e imagens do amado Santo António. A noite estava quente e convidava ao pezinho de dança. O som das músicas, bem portuguesas e animadas sobrepunha-se de tasca em tasca.
Nas proximidades da Avenida, a agitação já se fazia sentir. Dona Maria apregoava e apregoava:
- Olha o manjerico! No Santo António ou São João, o manjerico não falta não!
- Quem quer o tremoço? Não engorda e não tem osso!
A fome apertava e Dona Maria deslocou-se à roulotte ali perto para comer uma bifana e beber alguma coisa.
Na sua banca:
-Ohh Verdinho Perfumado! Verdinho Perfumado! – Chamava um tremoço enquanto saltava para o pé de um manjerico.
-Não me chame Perfumado! – Indagou o Manjerico.
-Está bem! Está bem! Olha preciso da tua ajuda!
-O que quer?
-Estou caidinho pela azeitona, a Preta! É linda! Aquela cor escura ao pôr-do-sol deixa-me doido.
-E então? O que é que eu tenho a ver com isso?
-Vá lá! Lembrei-me que hoje é noite de Santo António e elas hoje estão todas românticas. Podias me ajudar a fazer uma quadra para tentar conquistá-la.
-Humm! Vou tentar.
-Não demores muito que o meu coração está aos pulos. Prometo que jamais te chamo Perfumado!
Então cá vai:
“Preta, nesta noite de alvoroço,
Por ti deixo a casca,
A ti desejo o caroço,
Quero juntar-me a ti como se tudo fosse nosso”
-Vou dizer-lhe então!
O Tremoço, saltou para junto do alguidar e falou a quadra à Preta.
Tap! Tap! Levou uma estalada.
Saltou novamente para junto do manjerico:
-Então, resultou?
-Sim, ela ama-me! Tanto que queria logo me tirar a casca! Mas eu não sou fácil. Deixa-a sofrer mais um bocadinho.
Comentários
Sempre gostei destas conversas entre coisas inanimadas; coisas simples, mas que aplicadas aos objectos, para mim, tem imensa graça.
Parabéns pelo texto e continue a particioar!
Interessante!!!
O duelo mantido entre os "personagens" foi bem resolvido à chapada...
Pobre coitado do tremoso!!!
Abraços fraternos de paz