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Insultos

imagem: net
Tomé e José andavam zangados há anos. Tinham discutido um dia por causa de um muro comum entre suas terras. Nesse dia, tinham se insultado um ao outro. Foi o fim de uma amizade de infância.
Os anos passaram e, agora já na velhice, nada tinha sido alterado.
Um dia, na festa da aldeia, havia um concerto de concertinas que adoravam. Ambos haviam chegado tarde e os únicos lugares disponíveis eram um ao lado do outro. A idade pesava, logo não tiveram outro remédio senão ficar ali. Sentaram-se sem sequer trocar olhares.
Estava um calor insuportável, naquele mês de Agosto, embora o Sol já andasse inclinado. No chão de terra batida as sombras das pessoas e das cadeiras duplicavam, aparentemente, o número de espectadores.
Tomé olhava para o chão e via a sua sombra, ao lado do seu amigo de infância. Começou a recordar-se de um passado que o rancor um dia o fez esquecer.
-Zé, Zé! Olha um cavalo! – Dizia Tomé, enquanto unia as suas mãos.
-Consigo fazer um porco! Olha!
-Vamos fazer uma história? Não sei nenhuma de um cavalo com um porco.
-Humm! Pega ali num nabo! Tive uma ideia! Faz o que eu te digo! – Pediu Zé.
-Está bem!
-Um dia no campo andavam uns porcos a escarafunchar o pasto. Ao seu lado, cresciam uns nabos frondosos. Um dos animais resolveu arriscar e tentar comer um dos tubérculos. Aproximou-se do muro, com o focinho e as patas começou a escavar.
José correu para o muro e com as mãos simulava a movimentação.
-Lá conseguiu encontrar um nabo. Quando se preparava para o comer, o agricultor e seu filho vinham pelo caminho:
-Chico, és mesmo nabo! Vieste de ténis num dia de chuva. Já se estava a ver que, irias ficar todo porco!
-O porquinho, muito pensativo, desistiu de comer o nabo e voltou para junto dos seus amigos.
-Porque é que não comeste o nabo? – Perguntaram.
-Não comi por solidariedade.
-O que é isso?
-Sempre que os humanos desejam insultar-se uns aos outros, chamam-se porcos e nabos. As nossas raças são ambas ridicularizadas.
O concerto estava quase a terminar, José, engole a seco e comenta:
-Se o porco deixou de comer o seu manjar mais apetecível por solidariedade no ridículo, porque é que haveremos perder amizade no insulto.
Os dois amigos, com os olhos molhados de lágrimas, levantaram-se e abraçaram-se com toda a força que os braços já cansados permitiram.

Comentários

Joana disse…
que história gira! :)

são da L'oreal! Eu comprei na perfumes e companhia!
Eva Gonçalves disse…
Engraçado como ridicularizamos terceiros para insultar... :)gostei do desfecho moralista :) Beijo

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