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Macacão Barbado

Pastilhas gorila
De cabeça para baixo, pendurado no tecto da gruta, vivia o Dentinhos, o morcego. O dia era uma seca. Nunca conseguia estar o tempo todo a dormir como os irmãos e primos. O seu sonho era ver o que se passaria lá fora. Ouvia sempre muitos sons novos que entravam pelas várias entradas da gruta, trazidos pelos braços do vento.
- O que será que acontece lá fora durante o dia? – Perguntava ao seu melhor amigo, o Orelhas.
-Sempre disseram que, durante o dia, fazem-se coisas horríveis. O Macacão Barbado mata, tortura e destrói.
Entre os morcegos havia uma lenda que passava de gerações em gerações acerca desta personagem muito feroz. Contavam-se imensas histórias, ao amanhecer, aos pequeninos. Existia, por isso, muito medo de sair da gruta durante o dia.
“Come, senão chamo o Macacão Barbado!”. Diziam as mães para incentivar os bebés a mamarem.
O medo não afectava a imensa curiosidade do Dentinhos. Numa noite muito quente, não conseguia dormir com o barulho que vinha da entrada da gruta. Resolveu arriscar. Esfregou as asas e voou.
À medida que se aproximava da luz ia ficando mais tonto e cada vez via menos. As estalactites encontravam-se desfocadas e a viagem foi muito atribulada. Antes de chegar cá fora, bateu contra uma e caiu atordoado.
-O que fazes aqui durante o dia? – Ouviu muito ao longe enquanto tentava recuperar a consciência.
Ao abrir os olhos assustou-se:
-Ai, ai, tu não tens asas!
-Não, porquê?
Não queria acreditar. Um arrepio gélido atravessou-lhe a espinha. Pela sua mente passou a imagem que tinha construído desde pequeno, quando lhe contavam a história em que o Macacão Barbado arrancava as asas a quem comia a sua comida.
-Deve ser horrível!
-Não percebo nada! Horrível, o quê?
-Perder as asas.
-Eu nunca tive asas, pequeno morcego. Sou um rato. Os ratos não têm asas. Chamo-me RoiRoi.
-Ahhh! Desculpa nunca tinha visto um – Suspirou de alivio o Dentinhos.
Levantou-se, sacudiu as asas e perguntou:
-Olha, tu vives durante o dia? O que acontece lá fora? O Macacão Barbado existe?
-Vivo de dia e de noite. Durmo quando calha. Quem é esse?
-Sempre nos contam que esse monstro mau mata animais durante o dia.
-Hummm, deves estar a falar nos humanos.
-O que são os humanos?
-São animais como nós. Vivem de dia. Constroem as suas próprias casas, cultivam a sua comida e andam numas caixas com rodas.
-São maus?
-Uns são maus e outros bons.
-Não matam animais?
-Sim, matam. Eles alimentam-se de alguns animais como tu te alimentas de insectos.
-Ahhh, os insectos são animais?
-Raios, aonde tu vives Dentinhos? Tudo o que mexe é animal!
-Então eu como animais? E o que mais acontece durante o dia?
-Sim comes! Durante o dia não acontece nada de especial. Os animais que vivem à luz do Sol alimentam-se tal como fazem os que andam durante a noite. Há sempre vida.
-Gostava de ver!
-Não podes!
-Porquê?
-A luz faz-te mal e perdes capacidades. Podes correr riscos porque há animais lá fora que também se precisam de alimentar.
-Puxa, então deixa-me ficar por aqui enquanto o Sol brilha.
-Fazes bem. Como dizem os humanos: “Cada macaco no seu galho”

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