Avançar para o conteúdo principal

A tua cor

O final do Verão já se fazia sentir. Ao final da tarde, já se arrepiava uma aragem mais fresca. Na praça da Vila a agitação havia começado entre as quatro árvores existentes:
-Quero ser vermelha!
-A vermelha sou eu que sou a mais velha!
-Está bem! Então vou ser a laranja!
As outras duas árvores, mais novas e inexperientes olharam uma para a outra sem perceber a conversa. Tinham ambas quase mesma idade, apenas uma diferença de dias, e não percebiam a discussão.
-Anciãs, desculpem interromper-vos, mas porque estão a discutir as cores?
-Estes jovens! Tem-se que explicar tudo! Está a chegar o Outono e temos que amadurecer as folhas e deixa-las cair. Na nossa espécie, quando estamos juntas, não podemos ter a mesma cor- Respondeu a árvore menos velha.
-As nossas folhas vão cair! Ai! Vai doer? – Questionava a mais jovem árvore que, até ao momento, havia se mantido em silêncio.
-Não vai doer nada! Os jovens não sabem algumas coisas e cabe a nós ensiná-los, vizinha! Nós somos árvores e no Outono deixamos as folhas cair, para que na Primavera voltem a nascer novas.
-Que cor vamos dar às folhas e como?
-Resta apenas uma cor, o amarelo!
-Nós somos duas!
A velha anciã, sorriu.
-Não se preocupem com isso!
-Está bem! Explica-nos como mudamos a cor, por favor!
No último pôr-do-sol de Verão, olhem para o Sol, fixem um ponto, sem pestanejar. Depois de ele desaparecer, fechem os olhos e só abram no dia seguinte.
As jovens árvores ficaram um bocado cépticas.
-E como se sabe qual é último?
-No primeiro dia que as andorinhas deixarem de poisar nos vossos ramos.
A partir dai, as árvores observavam com muita atenção as rotinas das aves.
Num final da tarde, uma das mais jovens:
-Viste as andorinhas hoje?
-Não! Será que é esta tarde?
-Não sei! Se não for? Olhar para o Sol faz doer os olhos. Se olharmos cedo demais podemos arder!
-Tenho uma ideia! Vamos olhar para as mais velhas! Se elas olharem para o Sol faremos o mesmo. Tu olhas para a mais velha e eu para a outra.
-Combinado.
As horas foram passando e o final da tarde aproximava-se. As árvores não tiravam os olhos das anciãs.
O Sol descia no horizonte e ia pintando o céu com cores quentes desde o vermelho ao amarelo. Nunca tinham visto tamanha beleza. As árvores mais velhas, olharam ambas para o Sol fixamente.
-É agora! É agora! – Gritou a mais nova, irrequieta.
-Será?
-Não tenho a certeza mas é tão belo! Não consigo resistir!
-E se ardermos?
A imagem era bonita demais e ambas não resistiram olhar. Algo as atraia. Ficaram alguns minutos estáticas e fecharam os olhos, assim que o pôr-do-sol se pôs, de cansaço.
-Abrimos os olhos?
-Não quero! A imagem que tenho na minha mente é demasiado bela. Vou sonhar com ela. – Afirmava a mais nova.
-Está bem!
Na manhã seguinte, acordaram mais tarde. Os seus olhos estavam pesados e levaram mais tempo a abrir.
-Ah! As minhas folhas! Estou amarela! – Afirmou a menos nova das árvores, em voz alta.
A mais nova despertou ainda estremunhada.
-Oh! Ficaste tu com o amarelo! Se calhar não olhei bem para o pôr-do-sol! – Afirmou triste.
-Jovem! Levanta os ramos e observa as tuas folhas! – Alertou a anciã.
A pequena árvore, devagar levantou os galhos e ao ver as suas folhas, ficou quase sem palavras.
-Tens todas as nossas cores! Como conseguiste? – Reparou a menos nova.
-Não sei! Eu não fixei um ponto como a anciã disse. A imagem era demasiando bela e fiquei a observa-la toda! Não quis perder nada!
-Ah! Eu tive medo e olhei apenas para um pequeno pedaço.

Existem várias formas de aprender. Os mais velhos poderão indicar-nos os caminhos mas serão os traços da nossa personalidade que vão talhar a decisão. Os inseguros irão ver apenas uma parte de um todo a que os corajosos conseguem atingir.




Comentários

Joana disse…
arriscar sempre? ;)
podemos sempre ficar com cores lindas!

Mensagens populares deste blogue

Felicidade

A Felicidade não se conquista, aprende-se!

Impossível amor eterno

O mundo tinha acabado de ser criado e apenas havia uma aldeia no topo das montanhas. Existiam três famílias, uma dedicava-se à pesca, outra à caça e outra à recolha de frutos. Todos realizavam as suas tarefas para o bem da comunidade e trocavam o resultado das suas actividades entre si. Os colectores eram amados por todos mas os pescadores e os caçadores odiavam-se entre si. Segundo eles, uma pessoa podia viver só comendo peixe ou só carne pelo que, não fazia sentido existirem as duas profissões. Um dia, Sol, filho dos caçadores apaixonou-se pela filha dos pescadores, Lua. Esta relação durou pouco tempo até que fosse descoberta e repudiada pelas famílias. Nos meios pequenos não existem segredos. O ódio foi tanto que decidiram afasta-los para sempre. O Sol passou a viver durante metade do dia e a Lua a outra metade, ficando o resto do tempo fechados numa gruta profunda das montanhas. Assim, os caçadores passaram apenas a procurar animais durante o período que o seu filho era liberto, a ...

Aos que me acompanham

Ouço todo o mundo dizer que “ o mundo dá muitas voltas”, que “ o que hoje tens como certo, amanhã pode não o ser”. Questiono-me agora acerca das pessoas que estão sempre ao teu lado, incondicionalmente. Os nossos pais, por exemplo, discutimos, brigamos, queremos muitas vezes que eles nos deixem viver a nossa vida. Contudo quando, mais uma vez “batemos com a cabeça” regressamos e eles tem sempre os braços abertos para nos receber. Os verdadeiros amigos também estão neste grupo. Aqueles que já nos viram fazer figuras ridiculas e nem sequer ligaram ao assunto. Continuam ao nosso lado. Estão dispostos a ouvirem-nos ás 3h da manhã porque, mais uma vez, a vida nos pregou uma partida. É claro, que, um dia, não por vontade própria, podem-nos deixar mas, nessa altura já tem um lugar tão grande no nosso coração que os torna Eternos .