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As nossas árvores de Natal

-José Maria, não temos iluminação na árvore este ano. Vou decorá-la mas não vamos poder acender as luzes por causa da factura da eletricidade – Dizia sua mãe.
A crise apertava na casa do José Maria. O pai havia sido despedido no Verão e ainda não tinha conseguido arranjar mais nada. Viviam do seu subsídio de desemprego que não chegava ao salário mínimo, do ordenado variável da mãe que trabalhava nas limpezas domésticas e da pensão minima de sobrevivência do avô.
-Não faz mal! Temos árvores de Natal com luzes vermelhas e brancas na janela! – Afirmou o menino.
Sua mãe foi ao quarto da criança e olhou pela janela. Lembrou-se que a Junta de Freguesia poderia iluminado as árvores na rua e que fossem visíveis pela janela.
-José! Estás a inventar! Não há árvores na rua iluminadas! Só vejo as que estão junto à estrada e este ano não têm enfeites!
A política da autarquia e das Juntas de Freguesia, este ano, foi cortar nos gastos com as decorações de natal. As árvores da rua não foram iluminadas.
-Estão sim! Mãe, não vês as luzes brancas e vermelhas?
-Não gozes comigo José Manuel! Ponho-te de castigo!
-É verdade! As árvores estão iluminadas.
-Ai! Esta noite não comes sobremesa! Não se deve mentir, já te tinha dito.
Depois de jantar o menino estava muito triste. Nessa noite a sobremesa era mousse de chocolate, a sua preferida.
-Manuela! O menino não come sobremesa porquê? – Perguntou o avô, com os seus belos oitenta anos.
-Não me fale pai! O José Maria resolveu mentir! Disse que há árvores iluminadas na rua e visíveis da janela do quarto dele.
-Foste ver?
-Claro, pai! Não há lá nada este ano! Já sabes que a Junta de Freguesia cortou nas despesas de decoração de natal.
-É verdade! As árvores estão iluminadas de vermelho e branco!
-José Maria cala-te, se faz favor!
-Vou lá ver!
O avô levantou-se com todo o cuidado pois as suas pernas já não eram as mesmas e foi ao quarto.
-Também vou lá! – O menino levantou-se e correu para o quarto.
-José! Estás de castigo! Já ninguém me ouve nesta casa!
A mãe levantou-se e foi atrás dos dois.
Já à janela o avô, perguntou:
-Mostra-me as árvores José!
-Olha avô! Se reparares por entre os galhos das árvores vês as luzes dos carros, brancas e vermelhas.
A mãe que olhava por detrás do idoso corou pois, de facto, as árvores reluziam conforme passavam carros nos dois sentidos, por trás.
-Manuela, minha filha! Cresceste e esqueceste-te que o olhar de criança tem um único limite, a imaginação.
A partir desse dia e até à noite de Natal, depois do jantar, sentavam-se alguns minutos, os quatro, junto à janela de José, a observar as suas árvores de Natal iluminadas.

Comentários

Unknown disse…
Gosto mesmo da maneira como escreves :) Parabéns!

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