Avançar para o conteúdo principal

A Bota verdadeiramente de Natal

Aquela tarde era longa e nervosa. A agitação na pequena casa do Pai Natal era enorme. Todos corriam de um lado para o outro com os últimos preparativos. Havia sempre prendas de última hora. A colocação dos brinquedos no trenó começava muito cedo e todos os duendes eram precisos.
Antes de partir, o Pai Natal deixava uma das suas botas, junto à lareira, a que todos chamavam Bota Natalícia. Sim, porque o velhote de barbas brancas também recebia prendas no Natal.
Os seus desejos eram sempre conhecidos por todos, principalmente pela Fada dos Desejos à qual nada escapava.
À Mãe Natal cabia satisfazer o desejo de seu marido e sempre que não sabia o que oferecer visitava a Fada.
Este era um desses anos. Após o almoço do dia 24, esperou que todos saíssem de casa para junto do trenó e foi à sala. Junto à árvore de Natal estava uma pequena bola de neve com uma casa de árvore muito pequena lá dentro. Pegou na bola, olhou em volta para ver se não havia ninguém e agitou-a. Depois com muito cuidado pousou-a no lugar e ficou à espera
Lá dentro a neve, começou a cair na casa da árvore. Passados uns momentos, saíram raios de luz das frestas da janela e esta abriu-se.
Uma menina pequenina, com um vestido de vermelho e umas asas transparentes saiu, espreguiçou-se e sentou-se em cima do galho por baixo do parapeito.
-Olá Mãe! Já é Natal?
-Sim, Fada! É mesmo! Não sabias?
-Não! O teu marido costuma todos os anos consultar-me para ver se sei o que algumas crianças desejam mas este ano ainda não veio.
-A sério? Deve ter recebidos muitas cartas, então!
-Se calhar!
-Não és tu que ouves os desejos que as crianças e os adultos fazem ao longo do ano?
-Sim sou.
-A sério? Como é que ele soube então o que dar a todos? Nunca aconteceu!
-Não sei, mas a que devo a tua visita, Mãe?
-Olha! Eu ao contrário do Pai com as crianças, não sei o que devo dar-lhe este Natal. A Bota Natalícia já lá está! Ele não desejou nada?
-Não!
-Não! Meu Deus! A sério?
-Não ouvi nada, Mãe!
-Ele todos os anos deseja alguma coisa! Geralmente até são bolachas ou bolos! No ano passado tive que descobrir a receita dos pastéis de nata portugueses que ele viu numa casa de um menino, no ano anterior, e pedir aos duendes pasteleiros para me ajudarem.
-Eu sei mas este ano ele não pediu nada!
-O que faço Fada? Diz-me?
-Não sei mas conheço quem te poderá ajudar.
-Quem?
-A Fada da Estrela!
-Ah! Nunca ouvi falar!
-Pois não. Só as fadas conhecem e só recorremos a ela quando é uma questão que nós não conseguimos resolver.
-E como eu falo com ela?
-Vai buscar um escadote e coloca-o junto à árvore. Quando estiveres perto da Estrela, sopra para cima dela e verás.
-Não te esqueças!
-Do quê?
-Assim que soprares desce logo e aguarda!
A Mãe Natal assim fez. Soprou e aguardou junto à base da árvore.
De repente, o topo da árvore brilhou e detrás da Estrela saiu a mais bela Fada que alguma vez viu. Tinha cabelos louros e um vestido prateado.
-Olá Mãe Natal!
-Olá Fada da Estrela! Desculpe incomodá-la!
-Não faz mal! Eu sei porque vieste!
-Ai sim? Podes ajudar-me então?
-Posso!
-O que devo dar ao meu marido? O que ele deseja? Este ano não pediu bolachas nem bolos como costuma!
-Pois não, eu sei!
-Porquê?
-Mãe, tu viste o que o teu marido deu a algumas crianças este ano?
-Não, eu não me meto. Só ajudo quando ele pede. A Fada dos Desejos disse que ele este ano não precisou dela.
-Não precisou porque o Pai Natal deu os seus doces às crianças que tinham fome e que nunca comiam guloseimas!
-O quê?
-Sim, este ano há muita crise e há crianças que não tiveram tempo para pedir desejos de brinquedos e bonecos porque sempre que à noite se ajoelhavam para apelar ao Pai Natal adormeciam com fome.
A Mãe Natal, que já não cozinhava à séculos, correu para a cozinha, arregaçou as mangas e fez a maior quantidade de bolachas que conseguiu. Embrulhou-as com muito cuidado e colocou-as na Bota Natalícia.






Comentários

Unknown disse…
Gostei muito :)
Obrigado Phil. É o espirito natalicio

Mensagens populares deste blogue

Felicidade

A Felicidade não se conquista, aprende-se!

O sonho do André

André tinha um sonho. Adorava brincar ao ar livre, nos jardins e parques da cidade. Gostava de saltar de pedra em pedra, como se estivesse a jogar na calçada portuguesa, mas, sempre que o fazia, sentia-se um bocadinho triste. E sabem o que o fazia sentir-se assim? O lixo espalhado pelo chão. André gostaria de ter uma vassoura mágica que varresse tudo ou uma borracha gigante que apagasse o lixo e um pincel para voltar a colorir de verde os jardins e de cinzento os passeios. Não conseguia perceber por que razão as pessoas deitavam lixo no chão quando havia caixotes espalhados pela cidade. Gostava de pensar que as pessoas não podiam ser tão descuidadas assim. Imaginava que existia um monstro do lixo que, ao tentar comer o lixo dos caixotes, deixava cair pelo chão pacotes de sumo, latas de cerveja e muitas outras coisas. Certo dia, na escola, a professora pediu a todos que desenhassem o que gostariam de ser quando fossem grandes e escrevessem um pequeno texto sobre isso como trabalho de ca...

Semelhanças

Aiii...começo a preocupar-me com algumas das semelhanças com os meus pais, estou a ficar com o maior defeito da família: o esquecimento!!! Roupa esquecida na máquina de lavar???? Que coisa, os genes, acabamos por ficar com uma mistura dos do pai e dos da mãe e com a idade começam a tornar-se mais evidentes.