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Desejo-vos muitas maças azuis

Há muitos e muitos anos num reino muito distante vivia uma família muito pobre de jardineiros numa casa de pedra e madeira. O José e a Maria. Trabalhavam para um Senhor muito mau que não lhes pagava. Segundo ele, a casa e o quintal minúsculo que eles tinham para plantar algo para comer já era soldo suficiente.
Certo dia, o filho do Senhor adoeceu de tristeza. Ficava fechado no quarto e não queria comer. Os seus dias eram passados entre o choro e o olhar para o horizonte, parado. Seu pai estava muito preocupado e mandou chamar todos os curandeiros do reino. O menino tomou banhos de lavagens de plantas e muitas pessoas rezaram ladainhas ao seu leito. A tristeza não o abandonava. O Senhor trouxe todos os brinquedos que havia nas lojas do reino e o menino nem pestanejava.
-Não sei o que faça! Ele tem tudo. Roupas, brinquedos! Porque está triste? – Questionava o pai aos sábios que por ali passavam.
O menino definhava e a sua preocupação aumentava. Os dias iam passando e restava a visita de um velho das montanhas, um eremita que não falava com ninguém e que os seus criados conseguiram depois de muito custo traze-lo ao palácio.
-O que pode fazer pelo meu filho?
-Eu nada!
-Nada? Então porque veio?
-Porque podes pagar a alguém que procure a cura.
-Já o fiz e ninguém conseguiu.
-Pede ao teu jardineiro que traga uma maça azul!
-Uma maça azul? Aquele tosco nem as maças vermelhas me traz como eu quero. Grandes e doces!
-Então não sei!
-Espera, eu chamo-o! Se ele não me trouxer uma maça azul eu despeço-o e expulso-o das minhas terras.
O Senhor chamou os guardas e ordenou que chamassem o jardineiro. Muito preocupado, o José foi até ao palácio a toda a velocidade, transportado na carruagem mais rápida do reino.
Nunca tinha entrado naqueles majestosos aposentos. Percorreu as salas com um misto de surpresa e temor. Ao chegar ao pé do Senhor encontrou-o rodeado por guardas e ao seu lado estava um velho de barbas e cabelo comprido. Parecia que era um personagem fora daquele quadro.
-Jardineiro, preciso que me arranjes uma maça azul! Tens um dia! Se amanhã ao meio dia não a arranjares serás expulso das minhas terras!
-Mas meu Senhor…
-Não quero saber! Tens até amanhã ao meio dia! O meu filho só fica curado se comer uma maça azul.
José regressou a casa cabisbaixo a pé por entre as terras. Passou a tarde calado e não conseguiu jantar.
-José, não comes?
-Não!
Saiu da mesa e foi-se deitar. Não pregou olho.
Ao acordar estava rendido. A sua família teria que se mudar. Não existem maças azuis.
Era verão e tinha-se que regar os campos. Levantou-se cedo e partiu.
Enquanto regava, olhava para os regos a pensar na sua má sorte quando a passou por umas pedras transparentes que refletiam o céu azul. Teve uma ideia. Pegou nas pedras e colocou-as no curso de água que passava por baixo de uma maceira. Quando olhou o reflexo das maças na água estas eram, nem mais nem menos que azuis escuras.
Correu o máximo que pode e dirigiu-se ao palácio. A pé o percurso era demorado. O Sol aproximava-se do meio dia. Ao chegar ao portão. Gritou e disse:
-Deixem-me entrar que eu tenho as maçãs azuis!
Teve logo carta branca. O Senhor apareceu logo nos portões.
-Deixem-no passar!
-José, onde tens as maças?
-Traga o seu filho e venha comigo.
Entraram na carruagem e correram o máximo que os cavalos aguentaram. Pararam ao pé da terra aonde José estava a regar.
-Venham comigo!
Aproximaram-se da macieira.
-Estás a gozar comigo!
-Não estou meu Senhor, olhe para a água!
O dono das terras ao observar o reflexo viu que as maças estavam azuis na água.
-Ah! Meu filho, bebe esta água!
O menino aproximou-se do curso de água, baixou-se e sorriu ao ver as maças. Bebeu, bebeu até não poder mais.
-Pai!
-Sim meu filho?
-Tenho fome e quero brincar! – Pediu a criança com um sorriso no rosto.

A felicidade não está na quantidade e variedade da oferta mas sim na criatividade que se pode dar ou receber em cada gesto.

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