Junto à janela da sala de um quarto, numa quinta, vivia um Porquinho Mealheiro colorido, de ar sorridente. Passava os dias a observar quem passava, os animais, o tempo enfim tudo o que se passava lá fora. O Joãozinho, seu dono, muito pobre. Aprendeu a poupar desde pequenino e de vez em quando acariciava-o pondo umas moedas no seu dorso.
Nunca saía daquela estante. Apenas por uns breves momentos para a mãe do menino limpar o pó.
O Porquinho de louça tinha um sonho. Gostaria de ser um porquinho verdadeiro como aqueles que via pela janela a comer lá fora, no pátio. Poder mexer-se, saltar a correr.
Certo dia, o Joãozinho estava muito triste porque lhe tinha caído um dente e sua mãe, ao deitar, disse:
-Não fiques triste! Vamos por o dentinho debaixo da almofada. A Fada dos Dentes virá esta noite para te satisfazer um desejo.
O menino não ficou muito convencido mas aceitou.
O Porquinho Mealheiro, ouviu e pensou:
-Se deixar cair um dente, a Fada dos Dentes também me satisfará um desejo!
Então, começou a tentar baloiçar. Talvez conseguisse cair para a frente e bater com os dentes no livro que ali estava. Quem sabe um dente não caísse.
Cambaleou para frente e para traz com todas as suas forças. O seu desejo era tanto que conseguiu. Tombou para cima do livro e partiu vários dentes. Aliás ficou desdentado.
Ficou tão dorido e magoado que adormeceu.
As horas iam passando até que uma luz entrou no quarto. O porquinho abriu logo os olhos, pensando.
-É a Fada! É a Fada!
Quando o seu olhar ficou mais claro, reparou que a Fada que lhe aparecia era um bocado gorda para Fada. Pestanejou várias vezes e o que viu nem queria acreditar. Parecia-lhe um porco com asas!
-Tu não és a Fada?
-Não, não sou!
-O que és então?
-Sou o anjo dos Porcos!
-Ãh?
-Sim! Todos os animais têm um anjo!
-Oh! Não sabia! Isso quer dizer que morri?
-Não!
-Então?
-Tu tens um desejo muito forte e por isso sacrificaste a tua própria vida!
-Oh! Estou farto de estar aqui parado. Lá fora todos se mexem e saltam.
-Querias ser um porco de verdade?
-Queria!
-Hum, então vou conceder-te esse desejo!
O anjo dos porcos roncou e o porco mealheiro desapareceu do quarto e apareceu cá fora, com um corpo de porco.
-Yupie! Posso correr e saltar!
Correu, correu só que era ainda de noite e não reparou na cerca e bateu com a cabeça nas tábuas.
-Au! Outra vez! O que é isto?
-Isso é a cerca dos animais da quinta. Eles são vivos mas não podem sair daqui.
-Ah! Quer dizer que eles são animais vivos mas não podem correr, saltar a pular.
-Sim!
-Ohh, que azar!
-Azar? Porquê?
-Não tenho mais dentes…
-Porquê?
-Para partir e voltar a ser um Porquinho Mealheiro de louça!
-Ai, não te percebo!
-Anjo, para que é que eu quero ser um ser vivo se tenho uma cerca à volta. A minha estante era pequena mas eu tinha a janela como um horizonte.
O anjo muito perplexo, roncou, esticou o rabo de caracol e fez novamente desaparecer o porco.
-Mãe, mãe!
A mãe de Joãozinho correu ao quarto e quando lá chegou encontrou o menino de joelhos abraçado a um porquinho branco. À volta do porquinho, estavam cem sacos de moedas.
O porquinho de mealheiro nunca mais foi de porcelana mas sim muito verdadeiro e todos o tratavam como um animal de estimação. Os seus donos compraram uma quinta maior com uma enorme cerca aonde todos os animais corriam, corriam até se cansarem.
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