Avançar para o conteúdo principal

Bolinhas e Migalhas

O Bolinhas jamais saía de casa sem o seu lenço: branco às bolas vermelhas ao pescoço. Não interessava se estivesse calor ou frio. Era o seu adereço preferido e sem ele sentia-se desamparado.
Não tinha muitos amigos. Era muito gozado na escola por ser um porquinho gorducho. O seu único amigo era o pardal Migalhas. Chamava-se assim porque não conseguia parar de comer migalhas, estivesse aonde estivesse. Mal via uma, tinha que a comer. Era o grupo dos Totós da escola.
Contudo, não viviam tristes. Aliás divertiam-se muito em longas brincadeiras. Fingindo ser cowboys e cavaleiros. Viviam grandes aventuras.
-Bolinhas, já pensaste em mudar de lenço? Trazer outro aos quadrados, por exemplo?
-Já. Os meus pais até já me deram outro no Natal. Cheguei-o a pôr, mas quando olhei ao espelho não me reconheci. Além disso, senti falta do meu velho companheiro. Porque perguntas?
-Os meus pais acham que deveria ir ao médico para deixar de comer migalhas.
-Fazem-te mal?
-Não, não fazem mas vivia mais descansado. Quando vejo uma migalha no chão não resisto e assim podia dizer não.
-Compreendo. Podíamos era fazer um acordo.
-Então? – perguntou o pequeno Migalhas.
-Amanha, não trago o lenço se tu não comeres nenhuma migalha. Nem as dos bolos que os meninos deixam cair.
-Ai, não sei consigo resistir!
-Consegues sim.
-Está bem!
No dia a seguir, combinaram de manhã cedo no parque para brincar antes do almoço. Estavam de férias de Verão e podiam ficar lá o dia todo.
- Não trouxeste o lenço!
-Claro! Agora tens que cumprir a tua parte! Vamos brincar aos piratas e tentar encontrar um tesouro.
-Vamos!
Partiram pelo parque à procura de algo sem saber bem o quê. Talvez achassem uma chave perdida que imaginassem ser de uma arca cheia de ouro, ou um papel envelhecido com uma linguagem estrangeira que fingiriam ser as indicações para o local do tesouro. A imaginação era o seu limite.
Procuraram debaixo dos bancos de jardim, no meio da erva, atras dos arbustos e não encontravam nada até que viram um papagaio de papel colorido preso no meio de uns arbustos, junto a umas pedras, numa ribanceira.
-Eu vou la! Eu vou lá! -Afirmou o Migalhas.
-Sou mais pequeno!
-Está bem mas têm cuidado!
O pequeno pardal, que ainda mal voava. Saltitou para cima de uma pedra e de lá para cima de um arbusto. Só que ao tentar agarrar o papagaio de papel colorido com o bico desequilibrou-se e ficou preso nos arbustos, pendurado no fio do papagaio pela pata.
-Migalhas! Migalhas! Estás bem?
-Sim estou mas receio que o cordel não aguente. Se tivesses algo para me puxar. Não tens ai um cordel do pião?
-Não!
Bolinhas, muito corado, meteu a mão ao bolso e retirou de lá o seu lenço às bolas e atirou uma das pontas ao amigo.
-O teu lenço!
Migalhas agarrou-se ao lenço. Bolinhas, puxou-o com todas as suas forças até rasgar o pano.
-Rasgas-te o teu lenço para me salvar!
-Sim, o que me servia ter o lenço se perdesse com quem brincar.
A partir desse dia, os dois amigos mudaram. Bolinhas variou os seus lenços e o Migalhas. Bem, o Migalhas continuou a comer migalhas mas apenas às vezes.

Comentários

Unknown disse…
Adorei :)
Obrigado Phil

Mensagens populares deste blogue

Aos que me acompanham

Ouço todo o mundo dizer que “ o mundo dá muitas voltas”, que “ o que hoje tens como certo, amanhã pode não o ser”. Questiono-me agora acerca das pessoas que estão sempre ao teu lado, incondicionalmente. Os nossos pais, por exemplo, discutimos, brigamos, queremos muitas vezes que eles nos deixem viver a nossa vida. Contudo quando, mais uma vez “batemos com a cabeça” regressamos e eles tem sempre os braços abertos para nos receber. Os verdadeiros amigos também estão neste grupo. Aqueles que já nos viram fazer figuras ridiculas e nem sequer ligaram ao assunto. Continuam ao nosso lado. Estão dispostos a ouvirem-nos ás 3h da manhã porque, mais uma vez, a vida nos pregou uma partida. É claro, que, um dia, não por vontade própria, podem-nos deixar mas, nessa altura já tem um lugar tão grande no nosso coração que os torna Eternos .

Felicidade

A Felicidade não se conquista, aprende-se!

Impossível amor eterno

O mundo tinha acabado de ser criado e apenas havia uma aldeia no topo das montanhas. Existiam três famílias, uma dedicava-se à pesca, outra à caça e outra à recolha de frutos. Todos realizavam as suas tarefas para o bem da comunidade e trocavam o resultado das suas actividades entre si. Os colectores eram amados por todos mas os pescadores e os caçadores odiavam-se entre si. Segundo eles, uma pessoa podia viver só comendo peixe ou só carne pelo que, não fazia sentido existirem as duas profissões. Um dia, Sol, filho dos caçadores apaixonou-se pela filha dos pescadores, Lua. Esta relação durou pouco tempo até que fosse descoberta e repudiada pelas famílias. Nos meios pequenos não existem segredos. O ódio foi tanto que decidiram afasta-los para sempre. O Sol passou a viver durante metade do dia e a Lua a outra metade, ficando o resto do tempo fechados numa gruta profunda das montanhas. Assim, os caçadores passaram apenas a procurar animais durante o período que o seu filho era liberto, a