Encostada, ajeitada e resguardada entre a aspereza da porta envelhecida de madeira e a frieza da parede, descansava uma vassoura de palha. Uma porta há anos fechada.
A agitação já há muito abandonara a sua vida. A sua única companhia era a terra e o pó que ali se depositava, por esquecimento ou desleixo. Terra e pó com quem sempre lutara agora eram as suas principais parceiras.
As moscas que no Verão em si poisavam perguntavam-lhe o que ela fazia ao qual respondia sempre:
-Estou esquecida no Tempo do vento que não volta.
Os pequenos insetos voadores nunca entediam o significado da resposta e partiam. Uns riam outros sacudiam as asas mas nunca lhe davam demasiada importância.
-Está velha! Não sabe o que diz! Ninguém a entende. O vento vai e vem. É nesse vento que voamos.
Certo dia, o agricultor trouxe do campo umas flores campestres. Encheu uma jarra de barro com água fresca e colocou-as la dentro. Saiu e voltou às suas lides na terra.
Das pétalas das flores saiu uma abelha. Atordoada. Ficou presa quando o agricultor pressionou as plantas para as cortar.
-Bzzzz! Onde estouzzzz? Doi-me a cabezaaaaa!
Levantou voo sem pensar, com todas as suas forças e dirigiu-se aos vidros da parte superior da porta envelhecida. O sol, que resplandecia, da parte de fora, a atraíra para o que, pensava ser a liberdade. O voo foi tão forte que bateu com a cabeça no vidro e caiu no pé da vassoura.
-Ai, estou morta Quem me bateuzzzz? Não vi! Estou deitada nazz ervzz zecas à ezzzpera de dezzaparecer
-Ninguém te bateu! – Respondeu a vassoura.
A abelha não percebia o que se passava. Nem quem falava. No campo, os insectos, após morrerem, são levados para a palha seca e fofa. Diziam que o vento viria e as levava a voar outra vez.
-Quem fala? Ézz tu vento? Viezzte para me levar?
-Não sou o vento! Sou uma vassoura!
-O que é uma vassoura? Para que serve?
-Estou esquecida no Tempo do vento que não volta.
-O vento volta zempre para levar ozz que partem para voar com ele.
-Eu sei que volta mas o Vento que tu falas não é o meu vento.
-Tu tens um vento zó para ti.
-Não! Eu fazia vento pequenino para juntar a terra e o pó. Agora já não.
-Ahh!! Porquê?
-Sozinha não consigo. A agricultora que me pegava não o voltou a fazer.
-O que lhe aconteceu?
-Partiu!
-O meu Vento levou o teu vento.
-Sim.
-Não te preocupes que ze o meu Vento a levou, ela agora voa e um dia vem-te buscar para te levar também.
-Duvido.
De repente o agricultor voltou e ao ouvir o zumbido da abelha, abriu a porta para a soltar. Lá de fora veio uma rajada forte de vento que a fez a abelha voar e a vassoura, que há muito não se mexia tombou. O velho homem, reparou na sua presença. Recordou-se das brincadeiras da sua esposa a correr atrás dos seus filhos com a vassoura na mão, fingindo-lhe que lhes batia, quando eles faziam travessuras.
Depois de ela partir nunca mais mexeu nela e nem usou a porta. Eram recordações que ele queria tentar manter. Pegou na vassoura e instintivamente, começou a varrer de olhos fechados como via sua mulher fazer. Viajava no tempo.
A vassoura não queria acreditar que o seu Vento havia voltado no Tempo que um dia se esqueceu.
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