Um grão de arroz, no meio de um saco, cansado de esperar que algo acontecesse decidiu perguntar aos outros:
-Quando se vai passar alguma coisa? Vamos ficar aqui sempre?
Os outros grãos, amorfos nos seus cantos, olharam-no de lado, com espanto mas nada fizeram.
-Então? Ninguém me responde? O que vai acontecer e quando? Estou farto de estar aqui parado!
A sua repetida indignação fez com os outros grãos começassem a reparar neles próprios.
-Vá lá! – Repetia, outra vez, o grão.
Os seus companheiros ficaram agitados. Alguns suspiravam, pois nunca haviam falado muito. Outros, contudo, demonstravam-se irrequietos e incomodados.
-Ah! Finalmente alguém fez alguma coisa, nem que seja um suspiro!
O número de irrequietos começou a aumentar e os grãos tocavam uns nos outros. Uns para a direita, outros para a esquerda, outros para cima e outros para baixo.
O pequeno grão começou a ser empurrado para vários lados e a ficar tonto.
-Ei, alguém se mexeu e isso é bom mas estou a ser tonto!
A agitação piorou, pois formaram-se pequenos grupos de grãos que empurravam todos em conjunto entre si mas para sentidos diferentes uns dos outros.
-Estou a ser esmagado! Parem! – Gritou o grão.
-Tive uma ideia! Vamos todos empurrar para o mesmo lado! Um, dois, três, em frente!
Os grãos empurraram todos para a frente com toda a força e o saco de arroz, desequilibrou-se da prateleira e caiu do armário, rebentando no chão, espalhando os grãos pela cozinha fora.
O pequeno grão de arroz sozinho num canto, olhou em volta e estava num mundo diferente. Não sabia se seria bom se mau mas ou menos tinha acontecido alguma coisa.
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