Esquecida. Largada no braços do tempo. Perdida nas memórias de viagens, imagens e aventuras. Agora possui apenas um momento, o daquele quarto.
Ali estava, de olhar perdido no espelho em frente a si que reflectia cada pormenor daquele espaço.
Tinha saudades da alegria em guardar uma memória, do entusiasmo em gravar um acontecimento, da felicidade em descobrir uma visão nova que todos viam mas ninguém reparava.
Já tinha guardado cada pedaço, cada objecto e ângulo invertido daquele reflexo. Não havia mais nada de novo.
-Porque estou aqui? –Questionava-se.
Parecia chamar, quem um dia a considerou a sua amiga inseparável. Alguém com quem viu o mundo de uma forma diferente, não como um todo imperceptível ao tempo mas sim como pedaços de beleza inesgotável. Alguém com quem conseguiu parar o relógio, esquecer a vida e renascer em cada visão.
Companheiras, amigas, confidentes.
Agora, aqui estava.
-Pega-me, leva-me contigo para esse teu mundo?
Tentava apelar à sua velha amiga, cada vez que ela ali passava.
O tempo corria e não havia resposta. Aliás o relógio ao seu lado, mudava os números a uma velocidade nunca vista.
-Gostava de poder chorar!- Exclamou um dia, como que uma criança pedindo um doce ou um adulto querendo largar as suas mágoas.
Não podia. O mundo, que conseguia ver melhor que ninguém, a impedia pois ela era apenas uma máquina. Um equipamento que guarda pedaços de beleza mas sem direito à beleza de sentir.
PS.: Este texto é dedicado à minha velha amiga máquina, que finalmente está arranjada.
Participação no tema de Março da Fábrica de Letras: Fotografia
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