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Esbelto Verão...

Uma aranha passeava numa casa de banho. O calor havia-a obrigado a procurar um lugar mais fresco dentro de uma casa. Escolheu a divisão mais fresca.
Na manha seguinte, a senhora que lá morava olhava-se ao espelho e falava sozinha:
-Está a chegar o Verão! Tenho que fazer algo a estes pneus! E estas pernas! Credo! Comi imenso no Inverno!
Olhava-se de lado, sem roupa, e torturava-se.
-Que obesa que eu estou! Quem me dera ter o corpo da Claudia Vieira ou da Vanessa Oliveira!
A aranha observava o episódio com curiosidade, enquanto tecia a sua teia entre o espelho e o suporte para as toalhas.
A senhora de repente reparou na aranha gorducha e de pernas longas e esbeltas.
-Se ao menos uma parte de mim fosse magra! Olha esta aranha! Tem uma barriguinha mas possui umas pernas longas e esbeltas! Eu sou baixa, gorda e atarracada.
-Ai, enganei-me!
A senhora ouviu uma voz fininha e assustou-se.
-António! Disseste alguma coisa? – Perguntou ao marido.
-Estás maluca mulher! Agora ouves vozes é? Estava aqui entretido a fazer as palavras cruzadas.
-Se calhar estou! Deve ter sido a vizinha de cima!
Continuou a observar-se e vestiu uma saia que lhe estava ligeiramente apertada.
-Puxa! Pareço uma saca de batatas! A aranha é que tem sorte! É gorda mas não precisa de se vestir.
A aranha desconcentrou-se outra vez:
-Lá se foi mais uma malha!
-Quem fala? – Resolveu perguntar a senhora.
-Sou a aranha gorda e de pernas longas e esbeltas!
-Estou a ficar doida! Agora ouço aranhas!
-Não estás nada! Nos falamos só que como passamos a maior parte do tempo a trabalhar nem ligamos ao que se passa à nossa volta. Agora, nunca nenhum humano me tinha elogiado. Assim que somos vistas fogem ou matam-nos. Além disso, não consigo trabalhar com as tuas queixas!
-Desculpa! É que estamos a chegar ao Verão e…
-Já sei! Já sei! Dizes estar gorda!
-E não estou?
-Não sei!
-Puxa, não sabes! Olha esta saia!
-Hum…isso é bom?
-Claro que não!
-Hum…
-Estou a ver que não entendes! Pois, não precisas de te vestir!
-Hum…
-Já percebi! Vou mas é trocar de roupa e vou-me embora! Nem a aranha cá de casa me entende!
A aranha que tentava rematar a teia já estragada enquanto ouvia as queixas.
-Olha e se fosses fazer outra! Todos os dias faço uma cama nova na minha teia. Quando há comida teço uma mais forte quando não faço uma menos resistente.
A senhora calou-se. Aquele pequeno bicho estava gorducho porque no dia anterior tinha tido a sorte de ter comida e ela estava mais forte porque no Inverno passado teve sorte em poder comer mais do que precisava.

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