Avançar para o conteúdo principal

Fatias de Sol

Numa altura muito difícil da história, algures durante o período da 1ª Guerra Mundial, vivia-se uma fase muito complicada. Numa casa, do interior, o pai tinha sido chamado para França e a família tinha sido reduzida à mãe e a uma filha pequena. 
A matriarca era o suporte, trabalhava de Sol a Sol, na agricultura. Contudo, no Inverno as actividades no campo eram menos exigentes. O frio, a chuva e por vezes a neve impedia as pessoas de sair de casa. 
Faltava uns dias para o Natal e a mãe da menina adoeceu. Uma gripe muito forte impedia-a de levantar-se da cama. À jovem cabia as lides da casa e fazer as refeições. 
-Maria, falta alguma coisa para o jantar? Se faltar diz-me que eu vou à horta buscar ou vou procurar algum trabalho para ganhar algumas moedas! – Repetia a senhora, dia após dia, à sua filha.
 A menina desfazia-se em criatividade pois os mantimentos iam escasseando. Contudo, não queria que sua mãe se levantasse. 
Na véspera de Natal, a senhora perguntou: 
-Maria é Natal! Vai ao pote de açúcar da cozinha, despeja-o e debaixo estão umas moedas. Guarda-as bem! Vai a mercearia da Dona Augusta e traz um doce para nós. O avô Afonso e avó Felismina vêm nos visitar. Não te preocupes com a ceia. Eles trazem. Nós damos o doce. 
-Sim, mãe! A menina ficou desesperada! A reserva do pote de açúcar já tinha sido usada para as últimas refeições, sem a mãe saber. 
Abriu a arca dos mantimentos, junto à janela e, de lágrimas nos olhos, desesperava sem saber o que fazer. Só havia pão rijo. Lá fora o Sol, aparecia após dias e dias seguidos de chuva. Sorrateiramente, um raio de luz alaranjado entrou pelo vidro e recaiu sobre o pão dando-lhe um tom dourado. Maria teve uma ideia, correu para o galinheiro e apanhou alguns ovos. Na banca da cozinha havia leite de vaca da Florzinha, acabada de mungir, de manhã. Cortou o pão às fatias, passou-as pelos ovos batidos e pelo leite e fritou-as. No fim cobriu-as de açúcar. 
À noite pôs a mesa e ajudou a mãe a levantar-se para a ceia. Os avós chegaram. 
No final da refeição: 
-Maria, traz o doce! 
A menina, muito corada, foi buscar uma travessa com aquelas fatias de tom dourado. 
 -Que doce é este, Maria? 
-É um doce novo mãe! São, são….fatias douradas! 
Todos provaram e repetiram e jamais adivinharam que aquele manjar não era nada mais que do que o pão rijo da arca adocicado.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Impossível amor eterno

O mundo tinha acabado de ser criado e apenas havia uma aldeia no topo das montanhas. Existiam três famílias, uma dedicava-se à pesca, outra à caça e outra à recolha de frutos. Todos realizavam as suas tarefas para o bem da comunidade e trocavam o resultado das suas actividades entre si. Os colectores eram amados por todos mas os pescadores e os caçadores odiavam-se entre si. Segundo eles, uma pessoa podia viver só comendo peixe ou só carne pelo que, não fazia sentido existirem as duas profissões. Um dia, Sol, filho dos caçadores apaixonou-se pela filha dos pescadores, Lua. Esta relação durou pouco tempo até que fosse descoberta e repudiada pelas famílias. Nos meios pequenos não existem segredos. O ódio foi tanto que decidiram afasta-los para sempre. O Sol passou a viver durante metade do dia e a Lua a outra metade, ficando o resto do tempo fechados numa gruta profunda das montanhas. Assim, os caçadores passaram apenas a procurar animais durante o período que o seu filho era liberto, a ...

Felicidade

A Felicidade não se conquista, aprende-se!

Aos que me acompanham

Ouço todo o mundo dizer que “ o mundo dá muitas voltas”, que “ o que hoje tens como certo, amanhã pode não o ser”. Questiono-me agora acerca das pessoas que estão sempre ao teu lado, incondicionalmente. Os nossos pais, por exemplo, discutimos, brigamos, queremos muitas vezes que eles nos deixem viver a nossa vida. Contudo quando, mais uma vez “batemos com a cabeça” regressamos e eles tem sempre os braços abertos para nos receber. Os verdadeiros amigos também estão neste grupo. Aqueles que já nos viram fazer figuras ridiculas e nem sequer ligaram ao assunto. Continuam ao nosso lado. Estão dispostos a ouvirem-nos ás 3h da manhã porque, mais uma vez, a vida nos pregou uma partida. É claro, que, um dia, não por vontade própria, podem-nos deixar mas, nessa altura já tem um lugar tão grande no nosso coração que os torna Eternos .