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O Bolo do Rei


Num reino muito, mas muito distante, vivia um Rei muito severo e vaidoso. Tinha que andar sempre impecável e com a roupa mais bonita e moderna.
Todos os Natais, ele organizava um banquete para receber os restantes governantes dos reinos vizinhos. A preparação das festividades era demorada e começava muito antes da data. Todos os criados trabalhavam de Sol a Sol para ficar tudo ao gosto de sua majestade.
Uma das tarefas do criado de quarto do rei consistia em arranjar a vestimenta e os acessórios mais vistosos de sempre. Era um trabalho muito exigente e complicado. Aliás, passava o resto do ano a viajar pelos reinos em festas e em cerimónias a observar e tentar arranjar ideias novas.
Este ano tinha sido muito difícil. Adoeceu e não pode viajar. Contudo, o Rei nem teve esse aspeto em consideração e exigiu a coroa mais colorida da história.
-O que faço? Não sei como hei-de me safar este ano! – Desabafava o criado com a sua esposa, a cozinheira do Rei.
-Ele pediu o quê?
-A coroa mais colorida da história!
-Hum!
-Eu já falei com o ourives real e ele disse que só existem diamantes brancos, rubis vermelhos e esmeraldas verdes. O rei já tem uma coroa assim. Mandou-a a fazer a uns anos quando exigiu a cora mais cara. Estou lixado. Vai-me mandar matar!
A esposa ouviu com muita atenção e perguntou:
-Diz-me exactamente as palavras do Rei!
-“Ambrósio, este ano, quero a coroa mais colorida da história!”
-Hum!
-Ai, mulher! Só sabes dizer “Hum”! Queres ficar viúva é?
-Não te preocupes meu querido! Na festa terás a coroa mais colorida da história! Deixa isso comigo!
-Tu? Só percebes de cozinha minha linda!
-Confia em mim! Confias Ambrósio?
O criado de quarto do Rei não tinha escolha e acenou com a cabeça.
-Então, quando ele te pedir a coroa diz que chegará a si durante a festa.
Os preparativos continuaram e a noite chegou.
O Rei preparava a sua vestimenta e chamou o criado de quarto:
-Ambrósio! Onde está a minha coroa?
-Meu senhor, este ano a sua coroa chegara a si durante a festa.
O Rei franziu o sobrolho mas como era adepto da novidade, acenou com a cabeça e pôs a sua coroa mais cara.
Ao chegar à festa, já todos os convidados estavam no salão nobre. Ele era sempre o último porque gostava de causar impacto. Antes de entrar mandou chamar Ambrósio.
-Ambrósio, onde esta a minha coroa? Não posso entrar assim! Sem algo de novo.
Ali perto estava a cozinheira que ouviu e dirigiu-se ao Rei:
-Sua majestade, desculpe a intromissão. Pode acompanhar-me à cozinha!
O Rei, muito chocado, afirmou:
-Estás a querer que eu, o Rei, entre na cozinha? Queres morrer?
-Não meu senhor! Apenas queria mostrar-lhe a coisa mais bela alguma vez vista.
O Rei, levado pelo ego, lá foi.
Ao entrar na cozinha, viu na mesa, algo tapado com um pano.
-Mostra-me rápido! Que eu preciso de ir por a minha coroa mais colorida da história!
A cozinheira destapou o que estava em cima na mesa e disse:
-Sua majestade, eis a sua coroa mais colorida da história.
O rei ficou boquiaberto. Era um bolo em forma de coroa de todas as cores imagináveis. Cheias de frutos secos exóticos. Ao seu lado um dos conselheiros afirmou:
-O Rei queria uma coroa para a cabeça real e não um bolo.
-Desculpe, conselheiro! Sua majestade pediu a coroa mais colorida mas não disse que era para usar na cabeça – respondeu a cozinheira.
-Cala-te conselheiro! A cozinheira tem razão e de certeza que não existe pelos reinos fora uma coroa mais colorida e bonita. Ponham no centro do salão de baile e chamem-lhe Bolo do Rei!
Todos ficaram surpreendidos e sua majestade foi muito elogiada.
O bolo deixou de ser do Rei mas passou a ser de todas as mesas das famílias na noite de Natal.

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