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Um bacalhau salgado por uma prenda doce


Apontamentos e fatos sobre o Bacalhau:
  • Descoberto pelos Vikings e seco ao ar livre;
  •  Os portugueses foram os pioneiros a introduzirem na alimentação no séc. XV;
  • A igreja católica na Idade Média mantinha jejuns nas festividades muito rigorosos que impediam as pessoas de comerem “Carnes quentes” e o bacalhau era considerado comida fria (ver História de bacalhau).
E agora a ficção do Diário:) :


Algures na Noruega, na altura em que bravos vikings navegavam os mares, um grupo de bravos aventurou-se por uma rota nunca antes navegada. A certa altura, viram um iceberg azul, o que acharam muito estranho, pois geralmente eram todos brancos como a neve ou transparentes como a água.
Essa embarcação era comandada pelo Barba Ruiva, conhecido pela sua coragem mas também pela sua curiosidade. Ao ver aquele monte gelo flutuante estranho, decidiu mandar aproximar o barco para ver de perto.
Saltou da embarcação para o iceberg andou ate ao monte e tocou com a mão. De repente, surgiu uma luz forte e o Barba Ruiva desapareceu. Os outros Vikings ficaram muito assustados mas não tiveram coragem de ir confirmar.
-Está assombrado. Um fantasma levou o Barba Ruiva. Vamos embora!
Regressaram à aldeia, nos montes nórdicos aonde hoje se situa a Noruega, para comunicarem a família do Viking o sucedido. Ficaram todos muito tristes e nunca mas nunca mais seguiram aquela rota.
Entretanto, o Barba Ruiva acorda algures numa aldeia portuguesa, numa casa de pedra, no sec. XV. Muito assustado e sem saber o que lhe aconteceu, esconde-se numa arca que ali estava. Lá dentro estava  bacalhau seco e salgado. Reconheceu o peixe e retirou um bocado para provar.
-Olha, nunca tinha pensado nisto! O sal para manter o peixe!
Deitou-se por cima do bacalhau e esperou. Como estava muito cansado acabou por adormecer.
Era véspera de Natal e aquela família perante o jejum católico preparava-se para cozer o bacalhau. A matriarca abre a arca e assusta-se:
-Homem, homem, está um estranho dentro da arca!
O marido da senhora agarra na faca da cozinha que estava ali perto e aproxima-se, dando um empurrão à mulher para se afastar.
-Deixa isso comigo! Quem és tu e o que queres? Nós somos pobres e não temos ouro!
O Barba Ruiva fala mas ninguém o entende. O dono da casa aproxima a faca ao pescoço do Viking e ele fica parado assustado.
-Marido, deixa o estrangeiro em paz. Pelas vestimentas deve ser um viajante. Hoje é Natal e nós não temos nada para ele roubar. Vamos acolhe-lo e dar-lhe um pedaço do nosso bacalhau.
O senhor afasta a faca e a mulher aproxima-se dando a mão ao Barba Ruiva para se levantar. Perante o gesto o viking levanta-se.
A senhora retira um pedaço do bacalhau põe numa panela de ferro que estava na fogueira e acena-lhe para ele se sentar a mesa. Ficaram todos em silêncio pois não se entendiam:
-Meninos para a mesa!
Dois rapazes muito magrinhos surgiram, com ar esfomeado, e sentaram-se:
-Quem é pai?
-É um viajante!
-A sério? De onde?
-Não sei. Hoje é Natal, vamos cear.
A comida foi servida e o viking comeu sofregamente.
No final da refeição, Barba Ruiva levantou-se, tirou do seu colete um saco de pele e pôs na mesa. Fez uma vénia e dirigiu-se à porta para sair. A senhora interrompeu-o e deu-lhe uma lanterna de azeite acesa para o iluminar.
Cá fora estava muito frio e nevava. Um boneco de neve espreitava na rua. Os meninos deveriam tê-lo feito durante a tarde. Nunca tinha visto. Aproximou-se e tocou-lhe. A mesma luz forte surgiu novamente e Barba Ruiva apareceu junto ao Iceberg Azul de onde tinha partido.
Estava ainda mais frio do que na aldeia de onde tinha partido. Pensou que iria morrer ali. Ao seu lado estava a lanterna de azeite que na escuridão gelada potenciava a sua luz visível ao longe. De repente uma pequena embarcação apareceu no meio do nevoeiro nocturno. Era seu filho mais velho.
-Pai, sabia que estavas aqui. Que luz é essa?
-Não interessa filho! Vamos para casa.
Barba Ruiva nunca soube aonde esteve mas contou a todos que o bacalhau salgado pela água do mar durava muito mais e podia alimentar os corajosos navegantes por mais tempo.
Na aldeia portuguesa a família abriu o saco que estava cheio de moedas de ouro. Os meninos nunca mais passaram fome e todos os natais seguintes, aquele casal distribuía sacos de pele e pano com comida pelos mais desfavorecidos e viajantes. Assim surgiu em Portugal a tradição de dar prendas no Natal acompanhado pelo bacalhau que ainda hoje se mantém.

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