Certo dia, uma gota da chuva caiu
junto a um grão de terra. Ambos tinham o mesmo tamanho mas nunca se tinham
visto antes. Ficaram uns segundos a olhar um para o outro. A gota de água mais
curiosa não resistiu de perguntar:
-Viajei no ar, de mãos dadas, com
outras gotas. E tu?
-Nunca sai daqui.
-Nunca?
-Sempre vivi aqui.
A gota de água, habituada a
viajar e a procurar a razão para tudo ficou muito intrigada. Recorda-se de
quando era pequena, no mar, de um dia sentir-se leve e flutuar até chegar ao céu
aonde cresceu até voltar a cair.
-Tudo tem um início? Não te
lembras de quando eras mais pequeno?
-Sempre fui deste tamanho.
-Estranho. Já deves ter sido mais
pequeno. Não te deves é recordar. Todos são pequenos quando novos e depois
crescem.
-Tu és persistente? Eu sou um
grão de areia. Já fui é maior.
-Ãh! Maior? Isso não é possível.
-Gotinha, gotinha, o curso da
vida nem sempre é semelhante ao teu. Os grãos de areia são filhos de rochas que
se partem em pedras e estas por sua vez em grãos. Ao longo do tempo, vamos
ficando cada vez mais pequenos.
-Ah! Não percebo. Eu ao crescer
fui ganhando os conhecimentos de outras pequenas gotas que se juntaram a mim e
aumentando de tamanho.
-As pedras ao envelhecer
partem-se partilhando uma parte delas com cada grão que geram.
-Então, eu sou a soma de várias e
tu és parte de uma só.
-Pode-se entender assim.
-Possuis o conhecimento de parte
de uma rocha.
-Sim.
De repente, a temperatura
aumentou e a gota de água sentiu-se leve e quase a levitar, afirmou:
-Vou-me juntar a outras e
partilhar esta conversa com elas.
O grão de areia sorriu e disse:
-Não te preocupes, que eu já estou
aqui há anos e aquilo o que te ensinei já o fiz a outras que aqui passaram.
Podes saber apenas uma parte de
um todo mas sem essa parte o todo jamais teria esse conhecimento.
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