A entrevista tinha corrido bem. Estava com algumas
esperanças de conseguir o cargo embora, saísse de lá com a sensação que não
sabia muito bem para que servia. Pediam resistência e robustez apenas.
No seu anterior trabalho, amarrava caixotes num armazém por
isso estava habituada. Gostava de sentir o stress quando carregavam os camiões.
Sentia-se forte e útil. A crise chegou e o dono decretou falência.
Agora, após o envio de imensos currículos tinha conseguido
uma entrevista.
-É melhor que nada! – Pensava.
No dia seguinte, ligaram-lhe a fazer-lhe uma proposta. Ficou
radiante. Aceitou logo.
Passados alguns dias começou a trabalhar. No início teve
formação. Explicaram-lhe aonde tinha que exercer mais força, onde eram dados os
nós, etc.
Ia sempre para casa feliz e contente. Ninguém lhe
explicava ao certo o que tinha amarrado. Apenas como fazê-lo e aonde.
Após algum tempo, começou a trabalhar sozinha. Chegava todos
os dias a horas. Esticava-se. Amarrava os nós e lá ficava. Havia períodos de
vendaval e ai sim exercia força mas outros eram tão calmos que quase que
adormecia ao serviço.
O tempo ia passando. Contudo, continuava sem saber o que
amarrava. As colegas iam e viam sem muita motivação e ela não percebia.
Certo dia, encontrou uma antes de começar o trabalho e
perguntou:
-Bom dia! Sabes o que amarramos e para que serve.
A outra corda olhou para ela, com espanto e disse:
-Não sabes ainda?
-Não! Nós trabalhamos para o boneco. Isto é um parque
infantil. Nós sustentamos um boneco insuflável admirado por todos.
Ele é a estrela. Ninguém sabe que nós existimos.
A corda sentiu que alguém lhe tinha tirado o tapete. Todos
os dias a trabalhar para quem todos admiravam sem nunca mas nunca sequer
dar valor às cordas que o faziam crescer.
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