Um burro estava junto a uma árvore parado a olhar para um
pássaro que se espiolhava.
A ave já intrigada:
-Estás a olhar para quê?
O jumento, estático nem pestanejava.
-Ai! Estás a olhar para quê? Oh burro!
O animal absorto e imóvel continuava.
-Era só o que faltava agora! Um burro especado a olhar para
mim! – Falava a ave para si mesma.
-Acorda! Jumento! Para já com isso! Não vês que estás-me a
incomodar.
Nada acontecia. O pássaro já desesperado não sabia o que
fazer. O animal não se mexia.
Passado algum tempo,
uma mosca poisou no rabo do burro e pico-o. O burro deu um coice no ar e
desatou a correr pelo campo desalmadamente.
O pássaro finalmente ficou sozinho.
-Agora já posso limpar as minhas penas descansado!
Após alguns momentos, a ave começou-se a sentir incomodada. Faltava
ali qualquer coisa. Tentou fechar os olhos para dormitar e não conseguia. Olhava
em volta da árvore e estava só.
No fundo do campo, estava o burro! Num canto, entretido a
comer umas ervas.
A ave voou para um arbusto junto à cerca aonde o animal
estava.
O jumento, nem se levantou. As ervas estavam frescas.
O pássaro viu umas sementes debaixo do arbusto, voou para a
terra e começou comer.
Os dois ficaram ali horas, sem falar, sem se olharem, apenas
a alimentar-se. Um preso na admiração da solidão do outro.
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