A passear pelas traseiras de uma máquina de café, de um estabelecimento,
algures na Baixa de Lisboa, estava uma barata bebé.
Era a primeira vez que saia do buraco. Foi a última da ninhada
a fazê-lo. Não queria sair porque todos as suas irmãs e irmãos a gozavam porque
tinha bigode. Nunca tinham visto uma barata com bigode e ridicularizavam-na:
- Tens algo em cima da boca! Foste apanhado por uma bola de
cotão e cabelos? Ah! Ah!
A barata viva muito triste e não queria sair para a rua mas
os seus pais obrigaram-na:
-Tens que te aceitar e viver normalmente! Todos somos
diferentes! Olha o teu pai tinha uma antena encaracolada e o teu avô um olho
torto!
Esta tentativa de incentivo apenas fazia sentir mais mal a
barata. Pois achava que, pertencia a uma família de baratas estranhas.
Naquela noite teve que ser. Passeava em cima dos fios da máquina
de café, roendo um aqui e acolá, farejando umas borras de café pelo caminho.
De madrugada voltou ao buraco para dormir. A meio do dia,
acordou com gritos de temor. O grande chefe estava doente e precisava de comer
algo. Todas as baratas estavam em volta dele mas nenhuma poderia ajudar. Ninguém
se atrevia a sair durante o dia para ir buscar comida correndo o risco de ser
apanhada.
Já todos desesperavam e choravam quando a barata bebé falou
baixinho:
- Eu tenho comida!
De repente, ficaram todos a olhar para ele:
-Tens? – perguntaram todos em coro.
-Sim.
-Aonde? – perguntou seu pai.
-No bigode! É inevitável. Quando farejo vou ficando com
borras de café nos fios.
A barata sacudiu a cabeça e o chão ficou cheio de café.
Apanhou com as patas e levou ao grande chefe que comeu e
ficou melhor.
A partir desse dia a bigodes passou a ser tratada com
respeito e até com algum orgulho.
Comentários