Silêncio vivia sozinho num banco do jardim, unicamente
acompanhado pelos pássaros que, ocasionalmente pousavam nas árvores.
Todos os dias se sentava a ver as pessoas a caminho
das suas vidas enquanto esperava o seu tempo passar.
As estações substituíam-se umas às outras. A Primavera
coloria a relva que rodeava o seu banco, o Verão animava o parque infantil ali
ao lado com vozes infantis e o Outono cobria as traves de madeira com um manto
de folhas douradas.
O frio tornava o Silêncio cada vez mais sozinho. As pessoas
passavam a correr, os pássaros encolhiam-se nos ramos e o parque infantil era
apenas animado pelo ranger do baloiço causado pelo vento.
Aproximava-se o Natal. Na rua em frente foram colocadas
luzes que Silêncio admirava durante a noite. Os transeuntes agora faziam
maratonas de sacos na mão sem sequer olhar para o lado.
Todos se preparavam para a ceia de Natal, quentinhos nas
suas casas, cheios de prendas e doces.
Silêncio ali estava, parado a ver tudo acontecer, esperando
o tempo passar.
Era dia 24, e Silêncio estava desejoso que o dia fluísse,
que todos desaparecessem.
Miguel ia com sua mãe buscar um bolo-rei à padaria em
frente. Estava um dia frio mas solarengo.
-Mãe, posso andar de baloiço?
-Vai lá mas não saias do parque antes de eu chegar!
Miguel correu e baloiçou, baloiçou até se fartar, enquanto
sua mãe comprou o bolo.
-Miguel, vamos embora para casa!
O menino correu em direção a sua mãe mas atrapalhou-se e
tropeçou num dos pés do banco. A sua mãe correu assustada com medo que Silêncio
lhe fizesse mal. Pegou no menino ao colo e abraçou-o com força.
Miguel olhou para o Silêncio e disse:
-Feliz Natal!
Silêncio olhou para o menino e sorriu. Nesse momento, nesse
instante, pela primeira vez desejou que o tempo parasse.
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