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A origem da cor

Um menino fez um desenho numa folha de papel. Um conjunto de riscos coloridos que conseguiam retirar um sorriso do olhar de quem o via. Nesse dia fez vários, mas aquele tinha todas as cores. As folhas estavam arrumadas numa pasta que seu pai lhe havia oferecido no natal.
Quando saiu da escola, começou a chover e o menino correu para apanhar o autocarro e não chegar molhado a casa. Se tal acontecesse levaria um raspanete da avó.
Nessa correria a folha colorida soltou-se, fugiu e caiu no chão. A chuva aumentou de intensidade. O papel ficou colado. A tinta começou a desbotar. Era como se começassem a cair lágrimas coloridas pelo caminho alcatroado.
Entretido a apanhar umas sementes estava um melro. Corria por entre as folhas ali perto apenas orientado pelos grãos apetitosos. Estava tão distraído nas suas buscas que nem reparou no papel colorido. Tanto andou que sem notar acabou por chegar ao pé dele pisando uma das pontas.
As gotas da chuva continuavam a cair e quanto mais caíam, mais a cor do papel escorria pela folha.
O melro nunca tinha visto algo assim e ficou pasmado a olhar para tanta cor. Poderia ter fugido para debaixo de umas folhas para evitar ficar mais molhado, mas não. Ficou ali parado a observar. Parecia que tinha sido hipnotizado.
O seu pai, que por ali também andava, voou até ele:
-O que achaste?
O melro mais novo não respondeu.
Curioso o pai aproximou-se ainda mais para ver.
A folha de papel colorido estava quase toda desbotada quando ele chegou. A tinta já havia escorrido pela rua fora dando à água tons coloridos. De repente, parou de chover e o Sol apareceu.
Os raios incidiram sobre os fios de água fazendo-a brilhar.
-Estás a olhar para uma folha em branco? – Perguntou seu pai.
A temperatura do Sol aumentou e daqueles pedaços de tinta surgiu um belo arco-íris pelo ar. Contudo, os melros não estavam a uma distância suficiente para o poder ver.
-Anda embora e não sejas parvo!
O jovem melro assim fez. Partiu com seu pai e voaram para os ramos de uma árvore do outro lado da rua.
Quando poisaram, encontraram a mãe do melro:
-Estes jovens! Ficam espantados com tudo! O teu filho estava perplexo a ver uma folha de papel em branco, à chuva!
-Não estava nada, pai!
-Não me contraries! Eu estava lá e vi!
-Não! Estava a ver um arco-íris!
-Ora, esta! Já viste mulher! O nosso filho andou outra vez a comer aquelas bagas vermelhas que causam alucinações!
-Não, pai! Olha! – Respondeu o jovem melro apontando com o bico para o sítio aonde estava a folha de papel em branco.
-Ah!

O pai pediu desculpa ao filho pois nunca mas nunca tinha visto a ponta de um arco-íris nem jamais imaginaria que seria no nada de uma folha em branco.

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