Era uma vez um ourives chamado António, que criava peças de ouro e pedras preciosas. Vivia num vale distante, no meio de montanhas geladas, com a sua mulher e a sua filha.
O seu maior sonho era tornar-se o Ourives Real e fazer a peça mais bonita alguma vez vista para a Rainha Luz. Trabalhava de sol a sol para aperfeiçoar as suas criações, e o fruto do seu esforço começou a espalhar-se de boca em boca.
Certo dia, o Rei Pedro chamou-o ao Palácio Real para o convidar a apresentar a sua melhor, mais valiosa e rara tiara, para que o Rei a pudesse oferecer no Dia dos Namorados. Se a Rainha Luz gostasse, António tornar-se-ia o Ourives Real.
Luz era muito bela e bondosa, ao contrário da sua irmã, Gélida, que era vil e cruel. Gélida era a filha mais velha dos condes que o velho Rei André convidara para apresentar as suas filhas ao seu filho e atual Rei, Pedro.
Pedro enamorou-se de Luz e ignorou Gélida, que, desde então, nunca mais foi boa. Tudo o que Luz tinha, Gélida cobiçava e fazia tudo para ter igual ou melhor.
Assim, ao saber que o ourives iria criar uma tiara para Luz, Gélida correu até à sua oficina e disse:
— Quero que faças para mim uma tiara mais valiosa e bonita do que a da minha irmã!
O ourives estremeceu, pois conhecia a fama de Gélida, e respondeu receoso:
— Não posso! Se o fizer, corro o risco de nunca vir a ser o Ourives Real.
Nesse momento, Maria, a filha do ourives, entrou na sala segurando uma chávena de chá quente.
Gélida arregalou os olhos e gritou:
— Fazes o que eu digo, ou a tua filha sofrerá horríveis dores com o frio para sempre e nunca mais terá as mãos quentes!
A filha do ourives, vendo o sonho do pai em risco, exclamou:
— Não cedas, pai! Eu trabalho contigo e estou sempre com as mãos quentes da forja.
E o pai assim fez, para grande raiva de Gélida.
Os dias passaram, e tanto o ourives como Maria nada notaram de diferente. Trabalhavam arduamente na forja e não faziam mais nada. Estavam tão entusiasmados e entretidos que acabaram por esquecer a ameaça de Gélida.
O dia esperado chegou. Estava na hora de o ourives apresentar a sua peça ao Rei. Criara uma tiara de ouro com diamantes azuis, a cor preferida da Rainha Luz. Como a sua filha o ajudara tanto, resolveu levá-la consigo.
Era o Dia dos Namorados e fazia muito frio. Seguiram de carruagem até ao palácio.
A ansiedade era grande. Maria segurava no saco com a tiara com o maior cuidado.
Ao entrarem no salão real, viram suas altezas sentadas nos cadeirões reais.
Maria aproximou-se da Rainha, fez uma vénia, abriu cuidadosamente o saco e tirou de lá a tiara.
A Rainha agarrou nas mãos de Maria e disse:
— É a tiara mais bela que alguma vez vi, feita no azul mais deslumbrante… quase tão belo como o das tuas mãos, minha querida!
António, ao ver as mãos da sua filha, apercebeu-se de que a maldição de Gélida tinha sido cumprida. No seu rosto, caíram lágrimas.
O Rei, surpreso, declarou:
— António, a partir de hoje, os membros da tua família serão os Ourives Reais!
Maria, ao ver o pai transtornado, segredou-lhe:
— Pai, não te preocupes! Do calor da nossa forja viverei, e belas peças farei.
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