Numa paragem de autocarro, a descansar no colo de uma senhora de saia azul, numa mão, um polegar queixava-se de aborrecimento:
-Que seca! Estou farto desta vida!
O indicador, mesmo ali ao lado, muito curioso:
-Estás farto do quê?
-De fazer sempre a mesma coisa! Só sirvo para dizer que está “ok” ou esta “mal”, além das minhas funções do dia-a-dia! Queria ser mais expressivo! Gostava de ser artista!
-Hum! Nunca tinha pensado nisso. Desde que a mão não me atire contra as coisas e não seja alvo de cortes, por acidente, estou bem. Agora que falas nisso também só aponto ou então chamo alguém. Não estou aborrecido!
-Estás a ver! A nossa vida é monótona! Tu é que não és ambicioso! Quero mais!
Ao lado, encontrava-se um casal, que de repente, começou a gesticular um com o outro. Faziam sinais que, aqueles dedos, jamais tinham visto.
-Olha, olha! Aqueles dedos devem ser artistas. Que lindos movimentos que fazem! – Referiu o polegar entusiasmado.
Um dos elementos do casal, deixou cair o passe com a gesticulação. A senhora de saia azul baixou-se, ao mesmo tempo que o senhor do casal, para apanhar o objecto caído. As suas mãos tocaram-se, por breves momentos:
-Muitos parabéns! Vocês são o máximo! Uns verdadeiros artistas – Congratulou o polegar.
-O máximo, porquê? Nós não somos artistas. Nós fazemos parte apenas do corpo de uma pessoa surda-muda. Esta é a sua maneira de comunicar. É cansativo mas se não o fizermos não consegue fazer-se entender.
O polegar da senhora de saia azul, que nunca tinha visto esta forma de expressão, ficou vermelho de vergonha.
Antes de cobiçar mais na vida deverá-se dar valor ao que se tem pois tudo o que costuma parecer melhor acarreta sempre um senão.
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