Avançar para o conteúdo principal

Quero ser artista!

Numa paragem de autocarro, a descansar no colo de uma senhora de saia azul, numa mão, um polegar queixava-se de aborrecimento:
-Que seca! Estou farto desta vida!
O indicador, mesmo ali ao lado, muito curioso:
-Estás farto do quê?
-De fazer sempre a mesma coisa! Só sirvo para dizer que está “ok” ou esta “mal”, além das minhas funções do dia-a-dia! Queria ser mais expressivo! Gostava de ser artista!
-Hum! Nunca tinha pensado nisso. Desde que a mão não me atire contra as coisas e não seja alvo de cortes, por acidente, estou bem. Agora que falas nisso também só aponto ou então chamo alguém. Não estou aborrecido!
-Estás a ver! A nossa vida é monótona! Tu é que não és ambicioso! Quero mais!
Ao lado, encontrava-se um casal, que de repente, começou a gesticular um com o outro. Faziam sinais que, aqueles dedos, jamais tinham visto.
-Olha, olha! Aqueles dedos devem ser artistas. Que lindos movimentos que fazem! – Referiu o polegar entusiasmado.
Um dos elementos do casal, deixou cair o passe com a gesticulação. A senhora de saia azul baixou-se, ao mesmo tempo que o senhor do casal, para apanhar o objecto caído. As suas mãos tocaram-se, por breves momentos:
-Muitos parabéns! Vocês são o máximo! Uns verdadeiros artistas – Congratulou o polegar.
-O máximo, porquê? Nós não somos artistas. Nós fazemos parte apenas do corpo de uma pessoa surda-muda. Esta é a sua maneira de comunicar. É cansativo mas se não o fizermos não consegue fazer-se entender.
O polegar da senhora de saia azul, que nunca tinha visto esta forma de expressão, ficou vermelho de vergonha.

Antes de cobiçar mais na vida deverá-se dar valor ao que se tem pois tudo o que costuma parecer melhor acarreta sempre um senão.

Comentários

Nicole disse…
Nem mais !! Adorei esta pequena história :) *
Sofá Amarelo disse…
Que serão então os dedos de um pianista, ou de um artesão que molda pedaços de vida em forma de... formas!

Mensagens populares deste blogue

Felicidade

A Felicidade não se conquista, aprende-se!

O sonho do André

André tinha um sonho. Adorava brincar ao ar livre, nos jardins e parques da cidade. Gostava de saltar de pedra em pedra, como se estivesse a jogar na calçada portuguesa, mas, sempre que o fazia, sentia-se um bocadinho triste. E sabem o que o fazia sentir-se assim? O lixo espalhado pelo chão. André gostaria de ter uma vassoura mágica que varresse tudo ou uma borracha gigante que apagasse o lixo e um pincel para voltar a colorir de verde os jardins e de cinzento os passeios. Não conseguia perceber por que razão as pessoas deitavam lixo no chão quando havia caixotes espalhados pela cidade. Gostava de pensar que as pessoas não podiam ser tão descuidadas assim. Imaginava que existia um monstro do lixo que, ao tentar comer o lixo dos caixotes, deixava cair pelo chão pacotes de sumo, latas de cerveja e muitas outras coisas. Certo dia, na escola, a professora pediu a todos que desenhassem o que gostariam de ser quando fossem grandes e escrevessem um pequeno texto sobre isso como trabalho de ca...

Semelhanças

Aiii...começo a preocupar-me com algumas das semelhanças com os meus pais, estou a ficar com o maior defeito da família: o esquecimento!!! Roupa esquecida na máquina de lavar???? Que coisa, os genes, acabamos por ficar com uma mistura dos do pai e dos da mãe e com a idade começam a tornar-se mais evidentes.