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Sede de estar


Uma preguiça estava a descansar num ramo de uma árvore, numa tarde de Outono. Era um daqueles dias em que o céu ameaçava chover. A estação do ano era imprevisível e o fato de as nuvens se juntarem nem sempre indiciaria queda de água.
A preguiça estava com muita sede e olhava para o céu, por entre as folhagens e depois para o chão. Se descesse teria que percorrer alguns metros para beber água no lago, se ficasse aonde estava poderia esperar que chovesse.
Ali estava naquela indecisão quando uma mosca poisou numa das suas patas. A humidade do ar fazia ficar os insectos mais agitados e irrequietos.
- Vai chover! Não vai chover! Vai chover! Não vai chover! – Repetia a mosca sem parar.
Àquele pequeno insecto a indecisão inquietava-o. Levantava voo. Poisava. Sem saber o que fazer. A preguiça desesperava com sede e já não lhe bastava a sua indecisão ainda tinha que ouvir a mosca irrequieta.
- Para! Deixa-me pensar sossegada!
A pequena mosca que naquele momento estava absorvida com a instabilidade atmosférica não pensava muito.
-Estás a pensar em quê?
-Tenho sede!
A mosca sempre a saltar de sitio e muito ligada aos instintos de sobrevivência não percebia o porquê de pensar sobre o fato de ter sede. Sempre que a tinha voava para um lago ou uma poça e bebia logo.
-Então bebe!
-Não há água cá em cima!
A mosca esfregou as patas ao nariz, gesto que fazia quando parava por momentos para observar algo.
-Há um lago lá em baixo.
-Mas também pode chover!- Indagou a preguiça.
O insecto não percebia. Assim que sentia sede mexia-se e bebia aonde encontrava o precioso néctar. Não esperava e muito menos pensava em hipóteses.
-Se tens sede agora porque esperas pela chuva?
-Porque se esperar não preciso me mexer!
-Está bem!
-Está bem? Não esta nada bem! Não sei o que faça!
A mosca parou novamente, agora em cima de uma folha, para coçar a cabeça com a pata.
-Já decidiste!
A preguiça muito espantada com a afirmação:
-Não decidi nada!
-Já sim!
-Decidi o quê?
De repente, começam a cair umas pingas de chuva.
A preguiça abriu a boca para deixa-las entrar e saciar a sua sede.
-Decidiste esperar pela chuva porque quisesses mesmo beber no lago já tinhas descido!
A preguiça já saciada:
-É verdade!

Por vezes as pessoas esquecem-se que, quando tem uma decisão para tomar entre mudar ou não mudar o fato de pararem durante muito tempo para pensar se o fazem ou não já estão inconscientemente decidir pela não mudança.

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