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A mostrar mensagens de junho, 2012

És mesmo burro, pá!

Um cão estava deitado num jardim, junto a um lago, à sombra de uma árvore, para se proteger do calor. Ali perto, andava um gato que assim que viu o canídeo subiu para os ramos da árvore, com receio. O cão estava meio tonto com as elevadas temperaturas e deixou-se dormir. A tarde passou e quando estava mais fresco levantou-se. Quando ficou de pé, reparou na sombra da sua cauda. Algo se passou pela sua cabeça e começou a andar as voltas sobre si mesmo. O gato em cima dos ramos, enquanto lambia as suas patas, observava a situação. O cão só parou quando já estava demasiado cansado, voltando a deitar-se, só que desta vez de barriga para cima. Quando olhou para os ramos da árvore reparou no gato mas não lhe deu muita importância. Já era velho e os gatos já não lhe despertavam instintos de perseguição. O gato contudo, achou aquela reação tão absurda que não resistiu em perguntar: -Oh cão! Posso fazer-te uma pergunta? -Olá! Claro que podes! -Porque é que vocês, cães perseg

Dá-me algo, se faz favor...

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imagem: Vasco Santana Pátio das Cantigas Se o que tens não te faz falta, agradece, Se o que tens te aborrece, oferece, Se o que tens não te chega, te fortalece.

Esbelto Verão...

Uma aranha passeava numa casa de banho. O calor havia-a obrigado a procurar um lugar mais fresco dentro de uma casa. Escolheu a divisão mais fresca. Na manha seguinte, a senhora que lá morava olhava-se ao espelho e falava sozinha: -Está a chegar o Verão! Tenho que fazer algo a estes pneus! E estas pernas! Credo! Comi imenso no Inverno! Olhava-se de lado, sem roupa, e torturava-se. -Que obesa que eu estou! Quem me dera ter o corpo da Claudia Vieira ou da Vanessa Oliveira! A aranha observava o episódio com curiosidade, enquanto tecia a sua teia entre o espelho e o suporte para as toalhas. A senhora de repente reparou na aranha gorducha e de pernas longas e esbeltas. -Se ao menos uma parte de mim fosse magra! Olha esta aranha! Tem uma barriguinha mas possui umas pernas longas e esbeltas! Eu sou baixa, gorda e atarracada. -Ai, enganei-me! A senhora ouviu uma voz fininha e assustou-se. -António! Disseste alguma coisa? – Perguntou ao marido. -Estás maluca mulher! Ago

Do outro lado da rede

Num armário há muito tempo fechado estava uma bengala e uma raquete do membro mais novo da família. A raquete ainda estava em ótimo estado. No entanto, lamentava-se da solidão: - Estou farta de estar aqui largada neste armário! Não acontece nada! Onde está o Miguel? Queria dar umas “raquetadas”! O silêncio marcava a resposta. Ninguém lhe respondia. -Alguém me diz quando o Miguel regressa? Ficamos a meio de um jogo! Ainda sinto a bola nas minhas cordas. Aquilo é que foi uma jogada de mestre! -Vá lá! Alguém me diz? Cansada e já rouca de tanto apelar resolveu começar aos pulos. -Se não vem ter comigo, vou eu ter com ele! Ao seu lado, a bengala, já envelhecida e cansada. Ansiosa pelo seu descanso. -A juventude de ti partiu e a ti chegará! A raquete muito jovem para estas sábias filosofias. -O que foi “cota”? Falas português? -A juventude de ti partiu e a ti chegará!- respondeu a bengala. -Ok! Está bem! Não queres explicar! Não expliques! Ao menos sabes aonde es

Canto de luz, canto de mel

Um pirilampo encontrou uma abelha ao entardecer: -Sou o maior, sou brilhante! A abelha, a descansar numa folha nem ligou à conversa. -Oh, minha linda, não gostas aqui do “je”? Comigo terias as noites todas iluminadas. Na tua vida haveria sempre luz. A abelha recostou-se no seu manto verde, tentando adormecer com o canto. -Sou fantástico! Não sou? Sou brilhante. Cansado de ser ignorado, resolveu pousar junto à abelha. -Não me vês? Já algum dia viste um macho mais exuberante. A abelha chateou-se e picou-o. -Ai! Não precisavas de me magoar! -Sabes! Sou a maior, sou picante!

O poder da rocha

Esticada numa rocha estava uma lagartixa a tentar apanhar sol. O tempo estava ameno e o céu nebulado. As nuvens eram empurradas por uma aragem vinda do topo das montanhas. Ocasionalmente, tapavam os raios de sol e a sombra arrefecia o seu corpo. Não desistia. Olhava para o céu e esperava que passasse. O silêncio do seu repouso apenas foi interrompido por um “tap-tap” vindo das ervas. Olhou à sua volta, não viu nenhum humano e por isso não se preocupou. O sol voltou por uns momentos e fechou os olhos para melhor relaxar. -Olá! Olá! – Surgiu uma voz ao seu lado. Meio irritada pela interrupção mas demasiado anestesiada pelo calor, perguntou sem abrir os olhos: -Sim, quem fala? -Curi, muito prazer! -O que és e o que desejas? Não sabes que interrompes o meu sossego? -Desculpa! Estou apenas de passagem. Sou um gafanhoto saltitante. -Então, muito prazer e adeus! -Puxa, já te disseram que és muito simpática? A lagartixa, farta da conversa e sem querer perder raio de so

O preconceito começa aonde a sabedoria acaba!

A passear numa folha de couve andava uma família de caracol e uma família de lesmas. O pequeno caracol e a pequena lesma resolveram escorregar pelos veios da planta e andavam muito animados. Na hora do lanche, ambos regressaram para junto das mães que descansavam uma em cada ponta da mesma folha de couve. O pequeno caracol que andava na fase dos porquês: -Mãe porque é que aquele caracol não tem casa? A mãe caracol, sem saber muito bem o que dizer: -Não é um caracol, filho! É uma lesma! As lesmas não têm casa! O pequenote estranhou e continuou com o seu questionário: -Onde dormem à noite, então? Onde levam as sandes de couve e alface para a escola? As perguntas estavam cada vez mais difíceis e o conhecimento da mãe caracol acerca das lesmas não era assim muito aprofundado. Então, como todas as mães quando são confrontadas com desafios infantis, puxam pela imaginação: -Eles vivem todos na mesma casa, no centro de uma couve. Comem sempre o que querem e quando saem par

Amizade, o quanto falas...

Naquele galinheiro nada acontecia sem que alguém soubesse. Os acontecimentos eram divulgados quase no momento em que ocorriam, a todos os galináceos. Na maioria das vezes nem era preciso o “diz que disse” porque como as galinhas andavam sempre juntas, qualquer novidade era observada por todas ao mesmo tempo. Certo dia o dono do galinheiro resolveu pintar as vigas do teto com uma tinta especial vermelha por causa de uns bichos da madeira. No final da tarde, as galinhas foram recolhidas. A galinha amarela, no poleiro mais alto pôs um ovo e adormeceu. A tinta do teto ainda estava fresca e pintou o ovo de vermelho. No dia seguinte, quando os raios do sol entraram pela janela a galinha assim que viu o ovo começou a gritar de aflição. Sentia-se bem mas aqueles raios vermelhos na casca poderiam indicar que estava doente. Contudo, apenas comentou com a sua colega preta do lado os seus anseios. Como nem todas as galinhas estava no mesmo sítio a notícia foi espalhada por boato. Quan

A minha fonte

Santo António, cansado de tentar convencer os peixes do mar, resolveu ir para o norte do país. Ouviu dizer que nalgumas fontes havia uns peixes vermelhos muito pachorrentos e pacientes. Pareciam-lhe os ouvintes ideais. Andou, andou e no meio de um vale estava uma fonte de pedra seguida de um riacho. As suas pernas já estavam cansadas e resolveu sentar-se. Passados alguns momentos, a ouvir os pássaros resolveu olhar para a fonte para perceber se nela vivia algum peixe. -Olhai, peixes da terra! – Indagou. Os únicos ruídos que surgiram foram de umas rãs que tentavam apanhar sol em cima de um nenúfar. -Olhai, peixes da terra! De repente, ouviu-se uma voz: -Sim, o que quereis? Santo António debruçou-se sobre a fonte para tentar perceber de onde vinha a voz. No mar os peixes vinham ao de cima ouvi-lo. -Onde você está? -Eu estou no fundo da fonte! Espantado, Santo António não conseguia perceber como é que um peixe falava de dentro da água. -Como é que eu consigo ouv

Grão verde

Num saco de papel cheio de pipocas acabadas de fazer, restava um grão de milho. Escapou à ida para máquina e estava ali, ainda meio atordoado. -Onde estou? Quem são vocês? Ao seu lado, estavam pipocas. -Somos os teus amigos! -Vão a algum baile de máscaras? O que aconteceu? Está um calor impressionante aqui dentro. -A Micas? Onde está a minha melhor amiga? -Estou aqui! – Respondeu uma pipoca rosa que estava atrás de si. -Não pode ser! -É verdade! -Não és a Micas! -Sou! -Então se és a Micas, diz-me qual é o meu maior sonho! -O teu maior sonho é ser ator. O pequeno grão de milho não quis acreditar no que ouvia. -Amiga! Tive tantas saudades tuas! Vamos jogar? -Não posso! -Porquê? -Agora sou uma pipoca colorida Micas! Linda. Tenho a certeza que serei uma modelo. Desde pequenos que sempre partilharam estes sonhos. -Estás bela mas não podemos continuar a ser amigos! -Não! -Passamos pela mudança e tu nem sequer foste selecionado. Ficaste aqui perdid

Como tartaruga...

Sentada numa rocha junto ao mar. Procurava nas ondas o sossego do seu embalo e no mar o aroma da minha paz. Não sei ao certo á quanto tempo ali estava nem que horas de facto eram. Não queria saber. O tempo que corresse lá fora. Os acontecimentos que se atropelassem uns aos outros. Simplesmente não queria saber. Decidam por mim até porque, recentemente não tinha tido qualquer poder de intervenção no rumo das coisas. Estava cansada, desanimada e perdida.  Sempre fui conhecida como uma lutadora, como dotada com uma força capaz de ultrapassar qualquer obstáculo. Procurava essa capacidade que todos diziam ter. Já vivi muito. Sofri, ri e corri como se uma meta estivesse sempre ao meu alcance. Ali estava. Olhava para a espuma das ondas e procurava algo. Cada onda me trazia uma ideia. Escrevia-a na areia junto a mim. Observava-a, avaliava-a mas o mar que a trazia assim a apagava. Junto a mim, uma pequena tartaruga surgiu. Amante de animais sorri pela oportunidade. Resolvi não me mex

Sonho perfeito

O que é a perfeição? Um sonho de infância, Um desejo ou ânsia? Procuro, revejo o passado, À procura do que desejei para achar o que perdi. O que sonhamos como perfeito, Cegamo-nos no desespero do desencontro e perdemos o feito. O que interessa o que acontece sem prever?  Não é importante pois nunca o desejamos viver. O plano por nós desejado, É um mapa de traços desencontrado. A perfeição será beleza? Ser belo não é ser uma imagem sonhada como certeza?  A minha perfeição será o meu sonho,  E o meu sonho será a minha insatisfação. Participação no tema de Junho Fábrica das Letras: Perfeição

A inocência da criança

-Pai, quero ser grande! -Queres ter uma barriga como a do pai? -Não! -Então vai lá correr e saltar! -Mano, quero ser grande! -Queres ter borbulhas? -Não! -Então vai mas é brincar e aproveita! -Avô, quero ser grande! -Queres ficar careca? -Não! -Então, deixa-te estar! -Mãe, mãe! -Sim, filho! -Quero ser sempre criança! -Não pode ser filho, o tempo passa! Porque é que queres ficar sempre assim? -Porque não quero ter a barriga do pai, as borbulhas do mano e ser careca como o avô. Posso ser pequeno mas sou bonito! Feliz dia da criança!