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A mostrar mensagens de outubro, 2014

O limbo da abóbora

Uma abóbora vivia num muro de um quintal. Nasceu ali e ali tinha crescido. O muro fazia fronteira entre dois vizinhos que não se falavam. Tinham discutido há uns anos atrás exactamente por causa desse mesmo muro. A abóbora coitada estava na mesma situação. O seu pé era de um dos vizinhos mas o facto de ter crescido numa fronteira fazia com que, a sua propriedade fosse motivo de atrito. Assim e porque a sua existência não era assim tão importante para que ambos sequer se dignassem a dividi-la a abóbora lá ficou. Suas irmãs que tinham crescido no chão eram cuidadas e mimadas. Ela não. Vivia num limbo. Apenas alguns pardais se serviam do seu corpo para ter uma visão mais elevada sobre as redondezas mas era apenas por alguns momentos, pois assim que avistavam algum insecto que lhes cobiçasse o estômago voavam e deixavam-na mais uma vez sozinha. O tempo foi passando e as abóboras acabaram todas por ser colhidas pelo dono e ai sim ficou ainda mais sozinha. O inverno aproximava-se e

Erro de sintaxe

Um trabalhador de escritório muito atarefado, com um prazo para cumprir, escrevia com intensidade no teclado do computador de seu trabalho o dia todo. Isolado da realidade que o circundava, não comia, não falava nem ia à casa de banho. O teclado e o monitor eram as duas únicas coisas que lhe interessavam naquele momento. As horas passavam, a altura de jantar já havia passado e o cansaço começava a pesar nos seus olhos. A certa altura o trabalhador ouve uma voz: -Sinto a tua falta! O homem tão atarefado que pensava que seria alguém ainda no escritório a falar ao telefone e nem perdeu muito tempo a raciocinar sobre o assunto. -Ei, pst! Eu estou aqui! O trabalhador cansado, levanta os olhos e repara que à sua volta, no escritório, estavam todas as luzes apagadas e não havia mais ninguém. -Esqueceste-te de mim! O homem pegou nos telemóveis, não vá algum estar ligado por algum motivo e nada. Tudo parado. O tempo corria e ele regressou ao teclado. -Ei, aqui em baixo do lado

Quero não ser o que não vivi

Quero nascer aonde não nasci, Quero viver aonde não vivi, Quero ter os pais que não tive, Quero ter os amigos que nunca consegui. Quero achar o amor para que nasci, Quero viver a paixão  para que vivi, Quero não ter os bens que tive, Quero não ter os filhos que  consegui. Quero ter a casa aonde não nasci, Quero viver a vida que não vivi, Quero ter a riqueza que não tive, Quero ter os amores que nunca consegui. Quero não ser o que  sou, Quero não viver o que vivi, Quero não ter o que tive, Quero não amar o que nunca consegui.

Lisboa, mulher sempre

Lisboa, idosa moderna em xaile de cantora de fado, Moça regatada de socas tapadas, Mulher experiente de corpo de jovem inocente, Idosa cuidada de espirito gaiteiro. Lisboa, idosa maquilhada, de manjerico perfumada, Moça mimada de avental alado, Mulher tímida em braços de Tejo ardente, Idosa, criança, jovem amada.