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A mostrar mensagens de maio, 2012

O meu enorme amor:)

Numa loja de antiguidades, perdidos num armário do armazém, vivia um casal invulgar: uma lupa e um pedaço de vidro partido e envelhecido. O dono da loja já era idoso e já não tinha paciência, nem forças para arrumar os artigos perdidos na arrecadação. Apenas lá ia quando um cliente lhe pedia alguma coisa que não se encontrava em exposição. Certo dia, surgiu um pequeno rato à procura de comida. A lupa foi a primeira a vê-lo: -Ai, socorro! Está ali um monstro! Nunca vi um rato tão grande! Ao seu lado, o pedaço de espelho, tentou ver o bicho: -Não fiques histérica! É só um ratinho do campo. Deve andar à procura de comida e aqui não tem muita sorte! -É enorme! Um animal assim é capaz de comer qualquer coisa. Vamos morrer! O pedaço de vidro, já habituado aos exageros da esposa: -Tem calma, mulher! Já sabes que  vês sempre mais do que na verdade as coisas são! Não confias em mim? -Não vejo a mais! Observo é com mais pormenor e aquilo é um bicho enorme! O pequeno ratinho su

Saladinha ou arroz de polvo?

Caro primo Paul, Espero que estas palavras te encontrem bem de saúde. Eu estou bem. Aqui no Porto, as pessoas são muito simpáticas. Queria agradecer-te a arte que me ensinaste pois ela têm-me salvado a vida. Enquanto eu continuar a acertar na caixa que eles querem não vou parar ao prato de ninguém. Eles aqui gostam muito de nos comer, por isso tenho-me esforçado imenso. Não tenhas receio que o segredo está bem guardado comigo até a morte! Só lamento é que o povo aqui tem muito mau perder e assim que a Selecção Portuguesa sair do Euro vou fazer parte de uma saladinha ou de um arroz. Só tenho é que acertar no tacho certo:) O teu Primo, o Polvo Paulo

Terra às cegas

Há dias em que parece que somos atropelados por uma tempestade em alto mar. Eu fui ontem.  O meu barquito que andava tranquilamente à procura de terra e encontrou algo parecido com o triângulo das bermudas. Deixei de ver o que se passava a minha volta. Comecei a ter alucinações e a perder a noção da realidade. Se calhar não a perdi apenas passei a vê-la com outros olhos.  No meu céu várias nuvens juntaram-se e escureceram. Uma tempestade começou a cair em poucos segundos. Num curto espaço de tempo que presumo não tenha sido mais que meia hora vi o meu mastro quebrar, as velas rasgarem-se com os raios e as ondas entrarem pelo barco a dentro. Podia ter agarrado ao leme, tentado mudar de rumo mas a roda de madeira que governava a minha embarcação passou a ter vontade própria. Parecia ser governada por alguém invisível que a levava para onde desejava. Não me restou mais nada. Sentei-me num dos cantos do convés e fiquei a ver tudo a acontecer. Senti murros no estomago e cabeçadas mas n

Reflexo colorido...

Na mesa de maquilhagem do palhaço, estavam poisados um nariz vermelho e um chapéu colorido. Era dia de descanso e não havia espetáculos. -Estou farto de ser vermelho! Tenho uma vida aborrecida! Ao seu lado o chapéu que tentava adormecer: -Estás saturado porquê? -Sou redondo e vermelho! Aposto que, quando as crianças sorriem é por causa das tuas cores! Tens tantas! -É verdade! Nem sei ao certo quantas tenho! -Estás a ver! A tua vida não é aborrecida! Quando te olhas ao espelho vês sempre algo de diferente e alegre. Eu sou muito aborrecido! -Vá! Deixa-te de lamúrias e tenta adormecer! Isso passa-te! Passados alguns momentos, o nariz vermelho continuou: -Sou redondo! Se eu girar continuo igual! Tu és um cone! -Se girar, mantenho a mesma forma! Tenho é várias cores! Agora se me virares de cabeça para baixo… O nariz, nunca tinha visto o chapéu ao contrário. De repente, o chapéu cambaleou e deitou-se de lado. -Ah! És preto por dentro! -Sim! Sou! -Preto é uma cor

SmashBall

Sinto-me como uma folha que foi esmagada e colada a bola de futebol que vai a descer uma montanha aos saltos, sempre a bater nas pedras e nos galhos. Nem eu consigo soltar-me nem a bola para. Todos os dias levo mais uma pancada!

A vida é feita de pequenos voos

Uma folha de um castanheiro adorava embalar-se ao sabor do vento frio que vinha das montanhas. Vivia no mesmo galho com o seu irmão ouriço. -Uiii! Virada para a direita, virada para a esquerda! – Repetia a folha. -Adorava voar! Ao seu lado, a castanha dentro do ouriço tremia cada vez que era obrigada a sair do sítio. Tinha medo de alturas e estava agarrada à sua casca protetora cheia de picos. -Ai que medo! -Tens medo do quê? -De cair e magoar-me! -Vives numa casa protegida! Eu é que se cair não terei quem me salve! -Então porque querias voar? -Gosto da aventura e de me sentir livre. -Podes te magoar! Não tens receio? -Tenho, mas mesmo assim gostaria de saber como é! -És doida! Certo dia, veio uma enorme tempestade e o galho aonde estava a folha e o ouriço caíram no chão. O impacto foi tão grande que a castanha ficou com a sua casca protetora aberta. A folha sorria de contente pois tinha caído num manto formado por outras já caídas. -Foi fantástico, mana!

A força será a cores?

Uma bola de futebol, arrumada numa caixa, cheia de ar e aos pulos, afirmava: -Sou pesada e forte! O mundo para mim ou é preto ou é branco, ou seja, ou jogo ou não jogo. Ao lado, quase invisível, estava uma bola de ping-pong, branquinha e ainda no plástico de compra. -A vida é simples e os caminhos conhecidos! Nada me afeta. A bolinha de ping-pong, quase que era esmagada com tanta agitação: -Oh grande bola branca e preta, podes parar de saltar! És muito grande e estas a esmagar-me! -Ah! Ah! Quem fala? – Respondeu a bola de futebol, de forma irónica. -Sou eu, a bola de ping-pong! Aqui em baixo! -Oh! Desculpa amiguinha! És tão pequena que não te tinha visto! Também só sais para jogar com umas pequenas raquetes! Ah! Ah! Ou melhor não sais porque não jogas. Ainda tás nova! Ah! Ah!  A pequena bola branca também gostaria de jogar e estava triste. Queria dar outra cor a vida, como a grande bola branca e preta. De repente, a caixa abriu e uma mão pequenina, de humano, entro

Se não fosse estupido o que seria?

Estúpido, estúpido seria comparar este texto com um anúncio, em que alguém sobe por um elevador às 17h para limpar os vidros de centro de dia, e encontra avozinhas de saias coloridas a testar o novo evax fina e segura. Estúpido, estúpido seria comparar este texto com uma entrevista, em que um primeiro-ministro afirma dizer que ser despedido é ter uma nova oportunidade. Estúpido, estúpido seria comparar este texto com uma música, que começa num piu, passa por muu e acaba…sei lá como acaba… Estúpido, estúpido seria comparar este texto com algum hobbie, perdido por continuar a ler isto:)

Vida de pedra

Dei um pontapé numa pedra, Rasguei a meia nova, Tropecei em gato preto, Fiz uma nódoa negra no peito. Estraguei um vestido novo, Mostrei o meu seio ao povo. Perdi o autocarro, Mais veio um de novo, Reservado levou, Na poça e em mim acertou. Esperei meia hora,  Lá de novo chegou, Entrei desastrada, Até aos ossos apertada,  E por alguém tocada. Cheguei ao destino, Tentei aos encontrões furar,  Não consegui escapar, E noutra paragem fui parar. Corri para o escritório, O ponto tinha que picar, A pressa era danada, Que o salto num buraco quis ficar. Entrei desgrenhada, A chefe à minha espera danada,  Sentei-me na secretária, Com a cabeça torrada. O computador quis ligar, A rede foi na água parar. Quando tudo se resolveu, Urgente mail na caixa chegou. Ceguei como um breu, Para a rua fui convidada, Sem justificação e sem nada. Para casa fui preocupada, De coração partido e vida estragada, Amanha vou ren

Bom?

O que define algo de bom? As suas próprias qualidades ou a quantidade de pessoas que a deseja?

A Cebola Chorona.

Cholas era uma cebola que vivia a queixar-se e a lamuriar-se. -Ai, a chuva molha-me as folhas e suja-me de lama! -Odeio este Sol, deixa-me seca! -Parem-me esse vento! Os insetos vêm todos bater-me! -Não acontece nada. Não se passa nada nesta horta! Nem uma aragem mexer as folhas. Os dias iam passando e a Cholas nunca estava contente com nada. Certo dia, uma cenoura que vivia num canteiro ao lado. Já farta de tanto queixume e choradeira da cebola, resolveu perguntar-lhe:  -Olha lá, oh Cholas! Existe alguma coisa que te faça feliz? Queixas-te de tudo! A cebola olhou para a cenoura com ar de espanto, começou a chorar. -Estás a chorar porquê agora? -Porque não sei o que é ser feliz! De repente, calaram-se porque chegou o agricultor, aproximou-se da cebola e da cenoura e cortou-lhe as ramas.  Após a sua saída, sentiu-se um enorme silêncio, apenas interrompido pelo choro de Cholas: -Ai! Como vou viver agora? A cenoura, cheia de dor também, respondeu: -Vais vive

O Destino é!

Destino é percorrer o mundo e cruzar-me contigo numa estrada, Falar com milhares de pessoas e só tu me perceberes, Escrever textos e textos com metáforas e ironias cujo verdadeiro significado apenas tu lês. Destino é tentar transformar em palavras o que sinto e ouvires-me no silêncio, Esbracejar as minhas angustias e acalmar-me na tua calma, Partilhar a minha alma mostrando apenas a ti o seu fundo. O destino é deixar de procurar o que a nós vem parar. Participação tema de maio da Fábrica das Letras

Amizade de vidro

Bogas passava horas numa janela do primeiro andar algures num prédio de Lisboa. Durante o dia estava sempre sozinho em casa mas não ali naquele pedaço de parapeito. Tinha um amigo que o visitava sempre. Um pombo. Não se falavam porque o vidro os impedia mas ali ficavam horas a fazer companhia um ao outro. Tratava-se de uma relação de companheirismo no silêncio. Não era como duas pessoas que apanham todos os dias o mesmo autocarro sem nunca se falarem. Era mais do que isso. Olhavam-se olhos nos olhos e observavam as mesmas coisas com cumplicidade. Tinham as mesmas rotinas e sem se perceber como, parecia que tinham a mesma opinião sobre o que se passava lá fora. O pombo não tinha medo do predador natural, não pela existência do vidro mas porque mantinham uma espécie de amizade. Bogas, não sabia o que eram aves nem que na natureza eram adversários. Se calhar era uma relação baseada na insensatez de um e na ignorância do outro. Não era importante. Certo dia o dono de Bogas esqueceu-

Eu pires, tu chávena!

Imagem
imagem: net Um pires para a chávena: -Encosta-te e aquece-me! A chávena para o pires: -Suporta-me e sustenta-me! Os homens continuam a ser mais dependentes emocionalmente e as mulheres financeiramente, a última graças aos ainda inferiores salários pagos às mulheres em Portugal!

Dia do trabalhador a metade do preço

Põe o carro, tira o carro, Daqui ou da vizinha, Venha um de Maio ao Pingo Doce , O preço é metade e leva o que não gasta o ano inteiro. E quando eles querem um dumping à maneira, Nós pimba, nós pimba. Ai, como é que eu hei-de, como é que eu hei-de? Como é que eu hei-de me ir embora? Com a conta vazia, E os mantimentos quase de fora… E quando os trabalhadores da jerónimo querem um dia 1 de maio à maneira, Nós pimba, nós pimba. Põe o carro, tira o carro, De madrugada até á noitinha, Venha um de Maio  ao Pingo Doce , O preço é metade e leva o que não gasta o ano inteiro