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A mostrar mensagens de agosto, 2013

Uma questão de estrutura

Um melro apaixonado encontrou uma melra debaixo de um pinheiro, de manhãzinha, à procura de minhocas anafadas. A melra assim que encontrava uma minhoca gorda engolia-a toda de uma vez só. Timidamente aproximou-se e perguntou: -São boas? A melra com uma farta minhoca roliça no bico não conseguiu responder. O melro insistiu, tentando meter conversa: -Esta sombra mantém a terra fresca! As minhocas devem ser cheiinhas! A fêmea ainda a comer, continuava calada. O melro, já a desistir, tentou uma última vez: -És linda! Sabes? Esse tom rosa da minhoca gordalhufa fica bem com os teus belos olhos castanhos! A melra, espantada com os galanteios, ia-se engasgando e cuspiu a minhoca. A minhoca já no chão gritou: -Eu não sou gorda! Tenho uma estrutura forte! Os dois melros riram-se do comentário e repartiram a minhoca. Após o repasto, o melro disse: -Sentiste a estrutura? -Sim! Ia-me engasgando com os ossos! Ah! Ah! P.S.: Poderás mudar a tua aparência mas nunca

Adeus memória!

Wikipédia: fogo Fazias parte da família, Os anos passaram, as gerações substituíram-se e tu ali, Tempo após tempo, estação após estação. Raiz de conforto, mãe protetora. Viste crianças a criar cabelos brancos, E idosos a brincar de novo. Lembravas aos novos quem foram os que partiram, Recordavas aos velhos que por mais voltas que façam tudo se resume ali. E agora? Onde vou tocar para sentir os que já não estão? Quem vou cuidar para deixar algo de mim para os que virão? Fogo desesperante, levaste uma parte de nós! Apagaste uma parte do nosso passado e uma raiz do nosso futuro! P.s.: Infelizmente ontem um dos fogos que assola o nosso país matou um castanheiro centenário da minha família...

Los bigotes de la Cucaracha

A passear pelas traseiras de uma máquina de café, de um estabelecimento, algures na Baixa de Lisboa, estava uma barata bebé. Era a primeira vez que saia do buraco. Foi a última da ninhada a fazê-lo. Não queria sair porque todos as suas irmãs e irmãos a gozavam porque tinha bigode. Nunca tinham visto uma barata com bigode e ridicularizavam-na: - Tens algo em cima da boca! Foste apanhado por uma bola de cotão e cabelos? Ah! Ah! A barata viva muito triste e não queria sair para a rua mas os seus pais obrigaram-na: -Tens que te aceitar e viver normalmente! Todos somos diferentes! Olha o teu pai tinha uma antena encaracolada e o teu avô um olho torto! Esta tentativa de incentivo apenas fazia sentir mais mal a barata. Pois achava que, pertencia a uma família de baratas estranhas. Naquela noite teve que ser. Passeava em cima dos fios da máquina de café, roendo um aqui e acolá, farejando umas borras de café pelo caminho. De madrugada voltou ao buraco para dormir. A meio do dia,

Despida

Acordei e agora? Atravesso as rotinas sem pensar. Como se pedaços de cortinas à minha frente tivesse. Afasto-as, sem as sentir. Vou andando até ao fim do caminho. Em que o fim é a noite e o caminho mais um dia. Pergunto-me o que me faz feliz e não sei a resposta. Creio que nem o conceito já me jaz na memória. Tenho um buraco em mim. Um rasgo que não consigo cozer. Memórias que não quero largar. É como se vestisse, roupa atrás de roupa, E me sentisse sempre nua. Como se um vento frio sempre me tocasse. Quero um casaco, um sobretudo, Quero, sei lá, parar este arrepio que me faz viver num Inverno constante.