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A mostrar mensagens de fevereiro, 2012

Parque de campismo: Portugal

Num parque de campismo à beira mar, estava uma enorme mesa de piquenique. Espalhadas pela superfície encontravam-se imensas panelas encostadas umas às outras. Algumas até, dentro de maiores. Por entre os tachos, algumas chaleiras para aquecer água. Estes últimos utensílios transbordavam de vapor quente. Eram constantemente cheias. As suas tampas quase que saltavam de tanto uso. No céu do parque de campismo passou uma nave espacial com um ET que, reparou na mesa à beira mar. O ser alienígena, obrigado a relatar, num diário de bordo, acerca da sua missão de descoberta da Terra, relata: -Encontrei um pedaço de terra, à beira-mar, extremamente invulgar. Os habitantes são panelas e chaleiras. Os primeiros são os líderes da civilização pois passam o tempo todo parados a pensar sobre as mais altas questões. Pelo menos foi o que consegui observar, pois durante o meu voo nenhuma delas se mexeu de sítio. Reparei que efetuam Conselhos pois juntam-se nalguns locais. Deve ser para fazer brainstormi

Vozes fechadas á chave

-Não feches a porta com tanta força! -Esta noite ficou aberta! Olha que, qualquer dia assaltam-nos a casa! Recordava, sentada no sofá, de olhar fixo naquela tábua de madeira que há dias não se abria. Só quando a assistente social vinha visitá-la. O som da TV ecoava no silêncio mas os seus ouvidos apenas ouviam as memórias de um passado distante. Recordações de agitações de uma família numerosa de três filhos. As receitas e coscuvilhices transmitidas durante o dia nos canais de sinal aberto de TV cansavam-na. Gostava de sentir o som da companhia mas por vezes voava até à humanidade do passado. -Ai, vocês parem de correr! -Não batam com tanta força na porta! Não sou surda! Era como se os seus filhos voltassem a ser pequenos, a correr e a sorrir pela casa fora. Revia as entradas e saídas. Sentia o Toc Toc de quando regressavam da escola como se fosse nesse momento a sua hora de chegada. Adormecia, sonhava e acordava num ciclo inconsciente, apenas quebrado pelo genérico da novela das 19h.

Momento de parvoice, porque não?

Há questões que me coloco acerca dos animais que ainda ninguém me deu resposta: As preguiças têm as unhas grandes porque tiveram, lá está, preguiça para as cortar ou deixaram crescer para espetarem-nas no tronco das árvores e terem que fazer menos força para se susterem? As galinhas são mesmo estupidas ou gostam de dar bicadas nas pedras e comer areia? Os pombos sempre viveram em meios urbanos ou gostam de poluição? É que no campo raramente se veem à solta. Existe alguma razão para a qual os patos abanarem a cauda enquanto andam ou são apenas vaidosos. É que as estupidas galinhas quando andam não o fazem. Se calhar não foi um bom exemplo comparativo de alguém que dá cabeçadas em pedras. Foi só uma comparação morfológica.

Bolinhas e Migalhas

O Bolinhas jamais saía de casa sem o seu lenço: branco às bolas vermelhas ao pescoço. Não interessava se estivesse calor ou frio. Era o seu adereço preferido e sem ele sentia-se desamparado. Não tinha muitos amigos. Era muito gozado na escola por ser um porquinho gorducho. O seu único amigo era o pardal Migalhas. Chamava-se assim porque não conseguia parar de comer migalhas, estivesse aonde estivesse. Mal via uma, tinha que a comer. Era o grupo dos Totós da escola. Contudo, não viviam tristes. Aliás divertiam-se muito em longas brincadeiras. Fingindo ser cowboys e cavaleiros. Viviam grandes aventuras. -Bolinhas, já pensaste em mudar de lenço? Trazer outro aos quadrados, por exemplo? -Já. Os meus pais até já me deram outro no Natal. Cheguei-o a pôr, mas quando olhei ao espelho não me reconheci. Além disso, senti falta do meu velho companheiro. Porque perguntas? -Os meus pais acham que deveria ir ao médico para deixar de comer migalhas. -Fazem-te mal? -Não, não fazem mas vivia mais desca

Assim se toca...assim se sente

-Sou grande, poderosa e forte- Cantava alegre uma enorme rocha de granito, algures numa montanha Transmontana. -Chuva, sol e vento, nada me afeta e ninguém me detém! Ao seu lado, mesmo encostado a si, um grão de areia muito pequeno e quase invisível, ouvia calado. -Sou tão forte que os insetos se escondem debaixo da mim para se protegerem. Sou tão grande que os pássaros pousam em mim para poderem ver o se passa sua volta. Sou tão resistente que muitas plantas me escolhem como sua casa. O pequeno grão de areia, suspirava. Sentia um misto de cansaço com inveja. Não tinha nenhuma destas qualidades. Era apenas um entre milhares. Os dias passavam-se e deu por si a perguntar para que servia de facto. Não protegia ninguém. A única felicidade que tinha eram as festas. Sim as festas de areia. Todos os dias, pela hora do calor. Quando o sol batia nas faces dos pequenos grãos, refletia no ar luzes das mais variadas cores. O calor aquecia os seus corpos, que encostados uns aos outros emitiam sons.

Amor de botão

Imagem
imagem: net Quando estou contigo, tudo se encaixa, o mundo é perfeito parecemos um só, somos mais fortes, o que eu tenho de bom, tu tens de fantástico. o que eu tenho de mau, a ti também te falta. Quando nos afastam, tudo se perde, prendem-nos longe por vezes vejo-te, toco-te por felizes momentos. São apenas segundos porque juntos não nos querem. Porquê se o mundo pode ser perfeito? Que dor viver assim sem jeito. Não sou forte, fraca também não serei. Quem terá assim tanto mal ao peito? Para deixar-te aqui tão perto, debaixo do meu olhar, mas longe do meu estar.

Um dia foi...

- Agora, para prestar homenagem a este homem, bom pai de família, bom amigo e de um excelente coração vamos fazer um momento de silêncio. Dos filhos apenas estava um. O mais velho já não visitava a família há muito tempo. Na terra, diziam que tinha causado um grande desgosto a seus pais. Ninguém sabia ao certo, mas o amor pelas bonecas, as cores garridas na roupa e seu jeito afeminado poderiam ser a causa. O mais novo, filho preferido, esse sim. Agora com todos os bens, sempre teve a vida facilitada com um emprego na empresa de construção do pai. Por detrás das pessoas, alguém se lembrava das brincadeiras de infância, das saídas para os bailes e da troca de raparigas para namoriscar. Um velho amigo que, por esses velhos tempos resolveu prestar uma última homenagem. Nunca mais se tinham falado desde que o defunto t chegou à administração da empresa que haviam criado, através de uma acusação de furto ao seu sócio. À frente de todos os presentes estavam os seus amigos mais recentes. Os id

Ão, ão

A maior decepção da vida é ter consciência que se está entre os cães rafeiros que babam ao ver as carnes a passar num churrasco e nunca mas nunca se tem oportunidade de lhes dar uma trinca.

Conversas de chapéu

Já fazia parte de mim. Era como um órgão do meu próprio corpo. Não era um acessório como muitos, mas sim um inseparável amigo. As memórias da sua ausência já se haviam desvanecido. Deveria ser muito pequeno para o poder ter. Não saía de casa sem ele. Protegia-me do Sol e escondia-me do frio. Sem ele não era eu. Agora fechado em casa, admiro-o pendurado no bengaleiro. Converso com ele e imagino as suas respostas. Os dias passam entre a cama e o sofá. Ouço as vozes que saem deste novo aparelho que comprei há muitos anos. Conversas que me fazem sentir que, algures, lá fora o tempo passa. As novidades da minha vida já desapareceram. Agora é só deixar o tempo passar, à espera que esse mesmo tempo deixe de me visitar. Ouvi dizer que estas vozes que saem da caixinha vão ser caladas e é preciso comprar algo ou mudar de aparelho. Não percebo muito bem mas sei que não tenho dinheiro para o fazer. Velho amigo, vamos ficar em silêncio! Vamos voltar a ser só nós dois, como o fizemos durante 60 anos

Leva-me e faz-me voar!

Encostada, ajeitada e resguardada entre a aspereza da porta envelhecida de madeira e a frieza da parede, descansava uma vassoura de palha. Uma porta há anos fechada. A agitação já há muito abandonara a sua vida. A sua única companhia era a terra e o pó que ali se depositava, por esquecimento ou desleixo. Terra e pó com quem sempre lutara agora eram as suas principais parceiras. As moscas que no Verão em si poisavam perguntavam-lhe o que ela fazia ao qual respondia sempre: -Estou esquecida no Tempo do vento que não volta. Os pequenos insetos voadores nunca entediam o significado da resposta e partiam. Uns riam outros sacudiam as asas mas nunca lhe davam demasiada importância. -Está velha! Não sabe o que diz! Ninguém a entende. O vento vai e vem. É nesse vento que voamos. Certo dia, o agricultor trouxe do campo umas flores campestres. Encheu uma jarra de barro com água fresca e colocou-as la dentro. Saiu e voltou às suas lides na terra. Das pétalas das flores saiu uma abelha. Atordoada.

Estado do nada

Olho no espelho e procuro algo que à vista não se vê, Aproximo os olhos procurando o brilho de outrora que alguém se esforça por acabar, Olho no espelho e pergunto por mim, Tento gritar mas da voz apenas sai silêncio. Olho no espelho e espero que as expressões me respondam, Do meu rosto apenas a ausência de tudo indica o nada que no fundo quer dizer.

Nem tudo é perfeito...

Um Pedaço de uma história, estava sentado num banco de uma varanda com um livro inacabado no colo. Olhava para o horizonte, impávido e distante. As folhas do livro passavam ao sabor das lufadas de ar fresco vindo do cimo da montanha. Estava à horas assim. Sentia-se perdido desde que ela havia partido. A sua alma perguntava porquê e nos seus olhos ficou a última imagem que tinha dela. Tantos anos juntos. Muitas coisas vividas e partilhadas e agora que ela partiu não sabia o que fazer. Preocupado com o seu estado, a sua amiga caneta resolvera visitá-lo. -Pedaço precisas de reagir! O mundo não acabou e de certeza que vais conseguir dar a volta e continuar a tua vida. Podes seguir outro caminho! Pedaço, suavemente olhou nos olhos da sua amiga e suspirou de tristeza: -Não sei viver sem ela! -Claro que sabes! Hás-de encontrar um objectivo que te faça sorrir outra vez. -Amiga, sabes que sem ela perdi parte de mim, o resto da minha vida não existe porque era ela que a criava. -Entendo! É esse