Vícios



A vista de aqui de cima é fantástica e nos dias em que o tempo permite planar é melhor ainda. Consigo encontrar comida e brinquedos com o mínimo de esforço.
A minha colecção de coisas giras e as conversas com os vizinhos são os meus passatempos preferidos. Não consigo resistir ao brilho de um objecto nem a uma novidade bem interessante. Sempre que posso, paro numa árvore ou até mesmo no chão e converso um pouco. É assim que aguento as dezenas de anos que pesam nas asas deste velho corvo. Ainda me lembro de quem traiu as avós e quem roubou os pais da vizinhança.
Esta minha curiosidade pelas novidades da vida alheia não me permite guardar segredos. As penas fazem-me cócegas quando alguém me diz: “ Não contes a ninguém!”. Não é por isso que não tenho amigos. Quem não quer que se saiba não conta.
Aprendi esta lição no ano passado com a galinha preta: um dia ela contou-me que desconfiava que a pata branca andava metida com o galo porque, apareceram ovos mais pequenos do que o resto das patas num dos ninhos aonde ela costumava dormitar.
Eu achei o facto histórico, já tinha ouvido casos acerca da existência de relações entre as raças do galinheiro mas nunca tinha presenciado uma. Não consegui conter a novidade e contei assim que pude. Foi o pior erro que alguma vez fiz. Quando a pata branca soube desatou a chorar e confessou que como nunca tinha conseguido pôr ovos ajudava as galinhas a chocar os delas.
Todos temos defeitos. Não significa que não sou bom corvo apenas não sou guardador de segredos e agora aviso a quem se dirige: “Se ao povo não queres contar, deixa-te no segredo ficar.”

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