Família Tempo

imagem: net
Tic-tac, tic-tac!
Vivia a família Tempo, na sua rotina bem certa. A mãe, Hora, o pai, o Minuto e o filho, o Segundo. O relógio era sua casa. Cada um tinha sua responsabilidade e todos a cumpriam sem falta.
-Não te atrases para o jantar! – Alertava a mãe Hora
Já tinham visto muitos relógios saírem daquela loja. Os tempos evoluíam. Uns tinham casas, quadradas, rectangulares outras redondas. Todas as famílias eram construídas à luz da família Tempo.
A vida evoluía e as necessidades alteravam-se e, um dia, o velho André, pai de todos eles, sentado na sua cadeira, suspirava:
- As modas mudam! Os meus clientes envelheceram e os novos querem outras coisas!
- Vais criar outra casa? – Indagou a mãe Hora.
-Não. As pessoas hoje não querem ver as horas! Querem ter um acessório de moda. Aquilo o que me pedem, parte-me o coração!
O pai Minuto, muito atarefado, não hesitou:
-Amigo, o que tens em mente! Assustas-me!
- Pediram-me que criasse uma família sem filho! Um relógio sem ponteiro dos minutos. Dizem que ofusca a beleza do objecto. – Suspirou André.
-Não o vais fazer André, pois não? Lembro-me de te teres recusado ao fabrico dos relógios digitais. Foste o nosso orgulho!
-Minuto! Não tenho mais forças! Estou velho e o meu filho! O meu filho, montou uma fábrica de relógios digitais que me arruinou o negócio.
Nesse momento, a mãe Hora estremeceu, o pai Minuto descontrolou-se e o filho Segundo, sempre energético, parou. Todos os relógios da loja pararam. Lá fora as buzinadelas, começaram-se a ouvir.
André foi a janela e viu que todos os semáforos haviam parado. Na montra, em frente, as TVs fecharam-se, porque os relógios que controlavam a sua emissão deixaram de funcionar. O mundo tinha acabado de entrar em caos.
O relojoeiro correu para a família Tempo. Abanou a caixa. Abriu-a e mexeu no mecanismo e nada. O tic-tac da loja, tão característico, parou.
O filho de André entra na loja, vermelho e muito aflito:
-O que fizeste, pai?
-Fiz aquilo o que o resto dos meus clientes me exigiu para continuar a viver. Anunciei à família Tempo que iria retirar o Segundo. Eles pararam. Já fiz de tudo.
Seu filho, começou a chorar:
-Porque fizeste isso? Quando sai daqui tinhas a loja sempre cheia de clientes.
-Sim, é verdade! O problema é a moda! Os clientes exigem e exigem cada vez mais. O objectivo deixou de ser ter algo para dar as horas mas sim um acessório de moda. Estou velho. Já não consigo mais dizer não.
- Pai, eu volto para aqui!
-Não deixes os teus sonhos! Não quero!
-Não, os meus sonhos continuarão mas junto dos teus. Vamos continuar a ter famílias Tempo completas e os meus digitais também.
De repente, o Tic-tac voltou. Os ponteiros recomeçaram a andar em toda a loja e o Tempo voltou a correr.

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