Tangas, caído de duas

imagem:net
-Ahhh! Que fresquinha esta água! – Pavoneava-se Tangas, o pombo galã do bairro, no seu banho, numa poça, cheio de vaidade.
-Ohh menina! És tão doce como o milho! – Dizia a uma pombinha branca que passava.
-Olha! Cheira-me a pão fresco! – Atirava a outra cinzenta que acabou de pousar.
-És tão gira, tão gira que me deixas tonto! -Assobiava a uma malhada.
Tangas, passava os dias assim. Peito cheio, andar bamboleante e cheio de brilho.
-Um dia, vais cair de duas patas por uma pomba e nem vais ter coragem de falar! – Afirmava o pombo Cota.
-Não! O meu charme é natural. Basta ela ver os meus músculos peitorais e ouvir as minhas palavras doces ao ouvido que será minha.
O tempo passou. Um dia, em cima de um banco do jardim, pousou uma pombinha branca lindíssima. Nunca a tinha visto. Voou até ela. Quando cruzaram olhares, Tangas perdeu o pio. Abria o bico e nada saia. Ficou hipnotizado com aqueles olhos, aquela plumagem cuidada, aquele andar singelo.
A pombinha, levantou voo e ele nem conseguiu segui-la.
-Tangas, Tangas! Estás a dormir? – Gritava o Cotas.
Estava noutro mundo, de olhos esbugalhados e completamente surdo.
-Ãh? Linda! Maravilhosa! – Finalmente respondeu.
-O que é tu estás ai a dizer?
-Viste a Beleza que estava aqui neste banco?
-Quem? A Bela?
-Bela? Conhece-la?
-Sim! Veio do norte. Mora no telhado da padaria!
Nem disse mais nada. Levantou voo e dirigiu-se até à padaria. Ficou horas pousado, até que a viu. Nunca se conseguiu aproximar. Só saia de lá quando a fome apertava e o impedia de pensar. Geralmente ia à entrada do estabelecimento comer migalhas do pão do dia anterior, que o padeiro atirava aos pássaros.
Um dia enquanto comia, atrás de si:
-Olá! Queres comer algo diferente?
Quando se virou, estremeceu. Bela tinha-lhe falado.
-Quero! – Respondeu com voz trémula.
-Anda comigo!
Voaram para detrás do prédio da padaria aonde chegavam as camionetas dos fornecedores de cereais, cujas sacas, por vezes, meio furadas, deixavam cair algumas sementes.
Foi o inicio de uma bela amizade e nunca, mas nunca, Tangas conseguiu dizer-lhe qualquer piropo. Da timidez ou do amor, de seu bico apenas saía:
-Bela!

Comentários

Eva Gonçalves disse…
Quando li o título, pensei que o post tinha algo que ver com o facto de hoje ser o dia mundial sem cuecas (go goole).. mas afinal, não, rrssss. Olha, os machos são assim, what can I say? Tímidos do caraças! Mas a história, é gira. O pior, é que qualquer dia, vem outro, manda um piropo e lá se vai a grande amizade :)) Beijo
A sério? Não fazia ideia, mas até tem haver
obrigada por todos os comentários =) *

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