A sinceridade vive só.

Imagem: Wikipédia
Assente em musgo verdejante, no tronco de uma árvore, vivia um cogumelo vermelho rabugento. Sempre que se enervava ficava mais vermelho e as suas manchas brancas ressaltavam.
Não era muito sociável. Aliás, eram poucos os que se aproximavam para evitar o confronto.
Certo dia, uma lagarta verde e gorda, passava ali perto e reparou na solidão do cogumelo rabugento. Havia passado por várias árvores e todos os outros fungos viviam aos pares ou até mais.
Parou para observar:
-Estás a olhar para quê? Segue a tua vida! Deixa-me em paz! – Reclamou o cogumelo.
A lagarta muito espantada com a reação:
-Agora percebo porque vives só! És mau!
-O que percebes tu da minha solidão! Já te disse para te ires embora. Sai daqui para o teu bem!
-Puxa! Além de mau humorado, és agressivo!
A lagarta desistiu e foi-se embora, parando mais a frente junto a um cogumelo branquinho e muito fofo. Este parecia muito simpático. Tinha muitos filhos pequenos consigo. Resolveu aproximar-se.
-Há pessoas muito antipáticas!
-Olá! Estás a falar do vermelho rabuja?
-Sim! Insultou-me e expulsou-me!
-Ele é assim! Aproxima-te aqui de mim e se quiseres podes comer um pedaço do meu caule! Estás com ar de quem tem fome!
-A sério? Não te importas?
-Claro que não! O tempo está muito invernoso e rapidamente cresce o que comeres!
A lagarta, espantada com tamanha hospitalidade resolveu aceitar. Aproximou-se e deu uma dentada no caule do grande cogumelo fofo branco.
-Obrigada pela comida! É tarde e vou voltar para casa!
No caminho de regresso, começou-se a sentir mal disposta e enjoada. Passava a frente do cogumelo rabugento:
-Estás-te a sentir bem? – Perguntou o fungo vermelho.
-Deves estar muito preocupado comigo! Ainda há minutos me expulsaste!
As tonturas continuaram:
-Estou-me a sentir mal! – Alertou a lagarta, desmaiando de seguida!
A imagem que viu ao abrir os olhos era muito encarnada e viva:
-Ai, não me faças mal! – Referiu a lagarta quando se apercebeu que era o cogumelo rabuja.
-Desmaiaste? Comeste cogumelo branco não foi?
-Sim.
-Não deverias! É venenoso e eu também!
Assim que ouviu isto afastou-se.
-Venenosos!
-Sim, eu é que te dei um antiveneno!
A lagarta atordoada com a notícia:
-Era tão simpático!
-Claro mas sabes quem nem todos que te querem fazer mal te alertam das suas intenções.
-Ah! É por isso que vives só?
-Sim, se eu sei que posso magoar, afasto quem se quer chegar.
-Vives só por amor ao próximo!
-Não! Vivo só porque sou demasiado sincero!

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