Nem tudo é perfeito...

Um Pedaço de uma história, estava sentado num banco de uma varanda com um livro inacabado no colo.
Olhava para o horizonte, impávido e distante. As folhas do livro passavam ao sabor das lufadas de ar fresco vindo do cimo da montanha. Estava à horas assim. Sentia-se perdido desde que ela havia partido.
A sua alma perguntava porquê e nos seus olhos ficou a última imagem que tinha dela. Tantos anos juntos. Muitas coisas vividas e partilhadas e agora que ela partiu não sabia o que fazer.
Preocupado com o seu estado, a sua amiga caneta resolvera visitá-lo.
-Pedaço precisas de reagir! O mundo não acabou e de certeza que vais conseguir dar a volta e continuar a tua vida. Podes seguir outro caminho!
Pedaço, suavemente olhou nos olhos da sua amiga e suspirou de tristeza:
-Não sei viver sem ela!
-Claro que sabes! Hás-de encontrar um objectivo que te faça sorrir outra vez.
-Amiga, sabes que sem ela perdi parte de mim, o resto da minha vida não existe porque era ela que a criava.
-Entendo! É esse o vosso livro?
-Sim! Como vês, está inacabado! Há mais páginas em branco do que aquelas que estão marcadas pelas nossas aventuras. Se calhar é melhor arrancar as folhas que não foram escritas e acabar a minha vida por aqui.
-Não! Não faças isso! Pensa em nós. Vamos ficar o resto das nossas vidas sem poder saber o fim.
-O fim pode ser agora. Há imensas histórias que ficaram por acabar, perdidas nas gavetas de grandes escritores. Se calhar a companheira deles também partiu.
-Pedaço! Deixa de pensar assim! O nosso destino não está nas mãos de ninguém que não queira partilhar o seu próprio fado connosco.
-Hum...e como continuo? Não sei o que escrever. Ela era tão criativa a minha querida Imaginação.
-Pedaço, decide tu próprio a continuação da tua própria vida...
-Eu?
-Sim, olha tenho que ir. Sabes que agora apenas os alunos da escola me usam e durante pouco tempo. Tenho que estar sempre nas poucas aulas que passo com eles.
O Pedaço, levantou o livro que tinha sobre o colo e releu-o, reviveu-o e algo mexeu dentro de si. Um desejo enorme de escrever o que ia na sua alma, o que sentia. Assim o fez. Deitou tudo o que sentia naquelas páginas. Estava tão absorvido que nem pensou que ao fazer aquilo continuou  viver.
Cansado, levantou-se e foi dormir.
No dia seguinte, um sol deslumbrante entrou-lhe pela janela. Pegou no seu livro, colocou-o numa mochila e saiu de casa sem rumo. Chegou a um jardim e reparou num casal de idosos que passeavam de mão dada e pensou:
-Que lindo, parecem irmãos. Já devem estar juntos há tanto tempo que as vivências os tornaram parecidos. Gordinhos como são devem comer muitos doces.
Sentou-se num banco de jardim e escreveu o que via e tentou arranjar uma justificação de hábitos para as semelhanças daquele casal.
Sua amiga a caneta, que ali passava:
-Pedaço, saiste de casa?
-Sim, amiga! Olha o que escrevi.
A caneta pegou no livro e riu, riu como já não ria à anos. O pedaço de história mesmo sem a Imaginação escreveu aquilo o que via e usou o seu sentido de humor para o justificar.
-Pedaço!
-Sim, amiga!
-Afinal conseguiste!
-Sim bastou deixar de olhar para mim mesmo e parar para ver o que se passa à minha volta para perceber que tudo continou a existir e que se aqui estou é porque tenho uma razão de ser.

Quando algo na vida não corre bem deve-se parar de pensar nisso e olhar para o resto, porque os minutos continuam a correr no relógio e há muitas coisas simples que se pararmos para as olhar e sentir causaram-nos muitos sorrisos. E quanto mais sorrirmos menos negro se torna aquilo que nos fez chorar.

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