Azevias sabem nadar, yo:)
Numa aldeia piscatória da costa alentejana, há muitos anos, vivia
uma família muito pobre. Raramente comiam refeições que não incluíssem peixe
que o pai apanhava e hortaliças da horta que a mãe cultivava.
No Natal não era diferente. A mãe, para ceia preparava uma
azevia (peixe semelhante a solha) frita e panada.
-Mãe, podes fazer um doce este Natal? – Pedia o filho mais
novo.
-É muito caro. Comes um dióspiro como sobremesa que é bem
docinho!
-Mas mãe, os meus colegas da escola comem bolos!
-Eu sei, meu filho mas nós não podemos, está bem?
-Está bem!- concordou o filho, cabisbaixo.
A mãe ficou tocada com aquele pedido. Tinha açúcar no
armário que uma vizinha lhe tinha oferecido e farinha para panar as azevias
(peixe) para o dia de Natal mas não tinha mais nada. Ia fazer um doce com o
quê? Só tinha 2 ovos. Além disso, não sabia fazer e tinha vergonha de perguntar
a senhora que lhe tinha dado como era.
Era véspera de Natal e coseu uns feijões para o almoço desse
dia e sobraram porque os meninos não gostavam muito.
Deixou os feijões num tacho, por debaixo da prateleira aonde
ela tinha guardado religiosamente os ingredientes para a ceia.
Os meninos andavam a brincar à bola pela casa fora. Estavam muito
divertidos com a proximidade do Natal. De repente, um pontapé certeiro na
prateleira e o pacote de açúcar despejou-se para o tacho.
-Não acredito! Estão os dois de castigo. Vão já para o
quarto!
Os rapazes la foram. A mãe olhou para os feijões doces e
ficou muito triste pois agora é que não iria conseguir fazer um doce.
Mulher lutadora decidiu arriscar: juntou os ovos, com a
farinha e água, fazendo uma massa meio tosca. Estendeu-a como viu fazer à
padeira. Colocou lá dentro os feijões doces. Fechou a massa e fritou-as.
No fim da experiência, os fritos pareciam mesmo as azevias
(peixes) mas com um sabor muito doce.
À noite, chamou toda a gente para a ceia. Os meninos, em
coro:
-Mãe, estás chateada connosco?
-Não meus lindos!
Os meninos, já fartos de peixe, nunca reclamavam da monotonia
e naquela noite , depois da asneirinha que tinham feito, responderam:
-Quem bom, mãe!
Após a ceia, a mãe foi buscar um prato que estava escondido
dentro do armário e disse:
-Meus filhos eis o vosso doce!
-Parecem azevias!
-Provem!
Os meninos comeram regalados. Foi a noite de Natal mais doce
que já alguma vez tiveram.
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