Pássaro de plástico
O senhor Sebastião tinha como passatempo deitar migalhas de
pão aos pássaros. Ficava radioso quando via os pardais, no seu jardim, a voar e
a poisar para debicar a comida que lhe deixava. Vivia sozinho e estes animais
eram a sua companhia diária.
A única pessoa que lhe fazia visitas era o carteiro, quando
trazia as cartas da companhia da luz ou do gas.
Sebastião passava as manhãs e as tardes sentado num banco do
jardim a observar as aves. Sempre que aparecia alguma assobiava e falava com
elas.
Certo dia de Inverno, estava Sol mas bastante vento. O
velhote tinha acabado de esmigalhar o resto do papo-seco do pequeno-almoço num
pano de cozinha e espalhado pela relva.
O carteiro que, naquela aldeia, andava de bicicleta havia
parado e encostado a sua bicicleta junto ao seu portão. Já conhecia o senhor
Sebastião há anos e não ligava sempre que o encontrava a falar com os pássaros.
Era sinal que estava bem de saúde, que teve tempo para fazer as suas lides
domésticas, de cuidar de si e do jardim. Significava que as rotinas se
mantinham de forma saudável.
Abriu o portão e encontrou o velhote sentado no seu banco, a
apanhar os raios de sol e a falar sozinho.
À primeira vista pensava que estaria um pardalito escondido
nos arbustos que, não conseguia ver a distância e resolveu aproximar-se. O
senhor Sebastião estava de costas e não o ouviu entrar. O que era normal porque
ele ficava absorvido nas suas conversas. Só que, naquele dia, não havia pássaros.
Preocupado aproximou-se de Sebastião:
-Bom dia!
-Oh meu amigo! Bom dia! Bons olhos o vejam! Estava aqui nas
minhas conversas com o pássaro branco! Nunca tinha visto um desta espécie mas
ele esvoaça por entre a relva que nem um louco.
O carteiro, tentando disfarçar a sua preocupação, pois não
via nada, resolveu insistir:
-Sebastião! Desculpe mas eu não consigo vê-lo! Deve ser
muito rápido para mim! Acordei muito cedo: ossos do ofício!
-Está ali junto aos jacintos. Já conseguiu vê-lo?
O carteiro parou a olhar muito atentamente e de repente veio
uma rajada de vento que fez voar uma das suas cartas do saco. Esse mesmo vento
fez voar um pedaço de saco de plástico transparente que refletia a luz do Sol.
Correu para apanhar a carta e enquanto o fazia fez-se luz na sua mente. O pedaço
de plástico parecia um pássaro. Era isso! O Sebastião está bem! Só não consegue
aperceber-se, por causa dos raios de sol, que o que via era realmente um bocado
de saco transparente abrilhantado por focos de luz solar.
-Ah, já vi Sebastião! Mas olhe não é um pássaro! É um pedaço
de saco plástico que alguém deve ter deitado fora!
-Oh, é pena!
Levantou-se e apressou o passo em direção aos jacintos para
alcançar o plástico. Amarrotou-o e guardou no bolso.
-Vou levá-lo para reciclar! Assim como eu o confundi com um
pássaro que procurava comida também poderá haver outros animais que, ao
procurar comida o confundam como tal.
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