Fatias de amor dourado

Há muito, muito tempo numa terra distante vivia um Rei com uma filha muito bela, tão bela que não havia mais nenhuma mulher com tamanha beleza nas redondezas.
O Rei não tinha mais família senão a sua bela filha e protegia-a com todas as suas forças impedindo-a de sair do Palácio.
A Princesa cresceu rodeada pelos criados e criadas do reino não conhecendo mais ninguém. A única pessoa estranha ao Palácio autorizada a entrar era o padeiro pois a cozinheira real não era dotada para fazer pão e bolos e a princesa adorava pão.
Todos conheciam o Sr. António, o padeiro, que de madrugada chegava na sua carroça com preciosos manjares quentinhos do seu forno a lenha.
Certo dia de Inverno,l o Sr. António adoeceu e a entrega diária ficou comprometida. Não teve solução senão enviar o seu filho mais novo, aprendiz de padeiro, entregar a sua deliciosa encomenda.
-Miguel,  vai com cuidado e entrega esta carta ao guarda! Não dirijas palavra a ninguém, ouviste?
O Rei é a nossa principal fonte de sustento.
O seu filho mais novo assim fez. Nessa noite, acordou cedo para fazer os pães e bolos mais cobiçados por sua majestade e partiu em direção ao Palácio.
Na entrada entregou a carta ao guarda:
-Segue em frente até a porta vermelha, a da cozinha!
O jovem estava muito nervoso e nem decorou a cor da porta entrando pela primeira que encontrou, uma castanha. Só queria era entregar o pão e sair dali.
Contudo, assim que bateu à porta ela abriu-se e lá dentro, sentada numa mesa a bordar encontrava-se a donzela mais bela que já alguma vez sonhou. Ficou tão impressionado que não conseguiu explicar quem era.
-Quem és tu? -perguntou a donzela.
-Ahh..ahhh...
-És mudo?
-Nã....o.
-O que fazes aqui?
-Venho entregar o pão minha senhora.
-Ah..o Sr. António?
-Está doente! Eu sou o Miguel, seu filho.
-Tens ai pão quente?
-Claro.
Abriu o seu saco e tirou de lá o seu melhor pão. Estava quente ainda fumegava. A donzela pegou nele e arrancou um pedaço.
-És mesmo o filho do Sr. António. Era capaz de conhecer o seu pão em qualquer lado. Amanhã trazes-me um pão mais delicioso que este? Agora vai e bate à porta vermelha, não te esqueças!
O rapaz corado, baixou a cabeça e saiu.
Nessa noite, o jovem padeiro quase não dormiu e acordou cedinho para ir para o forno. Seu pai, até fiou surpreendido.
-Maria, parece que o nosso filho vai seguir as minhas pegadas- disse para sua esposa.
Miguel cozinhou nessa noite um pão nunca antes visto.
Entrou no Palácio e foi direto à porta castanha, novamente. Lá dentro, encontrou a bela donzela. Abriu o seu saco e deu-lhe o seu pão.
-Ah, o pão tem pintas pretas! Está cheio de carvão?
-Não minha senhora. São sementes de papoila. A mais bela flor do prado.
A princesa partiu um bocado, meio desconfiada e comeu.
-Humm...é...
-Diga, diga!
-Humm...é delicioso! Obrigada.
-Por favor não agradeça. Amanhã prometo que trago algo novo.
Assim fez, durante vários dias e semanas. O jovem padeiro trouxe diferentes pães, com várias farinhas, várias sementes, trazendo à princesa um pedaço do mundo exterior ao Palácio.
Contudo, certo dia o jovem foi apanhado e levado ao Rei para castigo.
Perante sua Majestade, que estava bastante furioso:
-Tu não tens noção do que fizeste! Violaste a principal regra deste reino!
O Rei tinha fama de ser bastante justo nas suas leis e regras, apenas nesta ele era totalmente implacável e para esta violação a pena era a sentença de morte.
-Tens direito contudo a uma última palavra!
-Meu senhor, posso pedir a mão de sua filha em casamento?
Todos os elementos da corte ficaram surpresos com tamanha audácia.
-Quem és tu e o que tens para oferecer à minha bela filha?
-Meu senhor, se me deixar passar uma noite junto ao meu forno trago-lhe o pão mais valioso que alguma vez viu.
-Ah..Ah!- sorriu o Rei que era bem disposto.
-A sério! Sua Majestade!
-Guardas! Levem-no para a casa do padeiro mas fiquem de guarda toda a noite. Quem o deixar fugir será condenado a morte como ele.
Miguel assim foi. Seu pai estava preocupadíssimo e seu mãe apenas chorava e dizia: o nosso filho não vai passar mais nenhum Natal conosco, António.
O jovem passou a noite em claro e de madrugada lá foi ele perante o Rei.
-Vamos lá despachar isto que eu quero dar inicio as festividades de Natal do Reino. Mostra lá o pão mais valioso. Ah...ah...
Miguel destapou a sua cesta de bolos e lá de dentro saiu um cheiro incrível, doce e ao mesmo tempo quente.
Pegou numa travessa e de repente todos ficaram boquiabertos. Nunca tinham visto fatias de pão dourado, tão dourado como o oiro mais belo e precioso.
O Rei pegou numa fatia e provou de olhos fechados. Entretanto, a corte ficou em suspense.
Depois, sua majestade abriu os olhos e virou-se para a sua filha:
-Meu bem mais precioso, creio que chegou a hora de te entregar. Virou-se para o jovem padeiro e disse:
-Concedo a mão da minha filha a o homem que transformou pão em ouro. Que se iniciem as festividades de Natal e que se prepare a mais bela festa de casamento mas com uma condição!
O jovem tremeu.
-Miguel, posso tratar-te por Miguel, não posso? Já que irás ser meu futuro genro, fazes mais destas fatias douradas, não fazes?
E assim viveram felizes para sempre.



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