Chuva de letras
Certo dia o João acordou, olhou pela janela e não queria acreditar. As ruas estavam cobertas por um granizo estranho. Não eram pedras nem pedrinhas mas sim letras. Imensas letras maiúsculas e minúsculas umas em cima das outras. Correu para o quarto dos pais:
-Mãe, pai, estão a cair letras do céu!
Os pais, ainda meio a dormir, acharam que João tinha estado
a sonhar.
-João meu querido! Estiveste a sonhar! – disse a mãe.
-Não mãe! Juro! Vai à janela.
A mãe para terminar o assunto, abriu os estores e ficou
abismada. Afinal o filho tinha razão.
Correu para agarrar o telemóvel e fotografar a paisagem, mas
a definição da câmara não permita distinguir o que era. Via-se apenas um manto
branco.
Desceu as escadas com a câmara ligada, mas quando abriu a
porta as letras haviam derretido.
O pai lá se levantou para ver o que se passava e já não viu
nada.
-Vocês ainda estavam a dormir! As letras não caem do céu!
Prosseguiram com as rotinas matinais e saíram de casa.
Hoje era o dia de o pai levar o João à escola.
O pai do João tinha um percurso longo até chegar ao trabalho
depois da escola. Ia de transportes. Geralmente ocupava esse tempo a ver o
tablet. Estava na paragem à espera do autocarro quando começou a cair granizo e
chuva. Ficou muito chateado porque quando chovia não podia ver o seu
equipamento porque molhava-se.
Após arrumar o tablet na sua mochila, começou a cair uma
chuva de granizo em forma de letras.
O pai do João esfregou os olhos. Não queria acreditar.
Afinal a sua família tinha razão.
Entretanto chegou o autocarro e ele teve de entrar senão
chegava atrasado ao trabalho.
Subiu a correr e tirou o tablet da mochila, pronto para
fotografar a paisagem, mas pelo vidro apenas se notou um manto branco.
À noite, ao jantar, a família estava à mesa em silêncio.
Geralmente, o João via televisão, o pai e a mãe acompanhavam a refeição com o telemóvel,
mas nessa noite ninguém o quis fazer.
-Filho!- disse o pai!
- Vocês tinham razão! Eu vi uma chuva de
letras gelada.
-Sim pai. Eu usei essa ideia para fazer uma capa na aula de
artes e pintei com aguarelas. O professor gostou imenso.
-Eu usei essa ideia para dar início a uma nova campanha de
publicidade para um novo gelado que iremos lançar na minha empresa no Verão –
disse a mãe.
Nessa noite não houve partilhas de vídeos na TV nem no telemóvel,
mas todos partilharam um pedaço do seu dia uns com os outros.
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