Era uma vez uma avestruz chamada Lena que vivia no Jardim Zoológico de Lisboa com outros animais.
Era diferente das outras. Vivia afastada porque não se sentia bem com as suas
companheiras. Lena tinha um sonho: queria aprender a voar como o seu amigo
pardal, o Tito. Adorava poder voar pelas nuvens e sentir o sabor do vento.
Todos os dias tentava levantar voo, subindo a um dos comedouros e
atirando-se lá de cima. Contudo, sempre que tentava, chorava e esperneava. As
suas asas ficavam tensas e não conseguia fazer mais nada durante algum tempo. O
seu amigo Tito tentava animá-la, mas ela nem o ouvia. A raiva de não conseguir
voar era mais forte do que ela.
— Não percebo, Tito! — gritava.
— Tenho asas com penas, porque não voo?
Tito, com muita paciência, respondia:
— Lena, as avestruzes são grandes e pesadas. É difícil voar!
— Não digas isso! Eu sou uma ave como tu! Eu quero voar! —
insistia ela.
Passados alguns minutos, Lena acalmava-se e voltava às suas
rotinas diárias.
— Sabes, Tito, eu não sirvo mesmo para nada aqui no Zoo. Tu voas e passeias, e
eu estou sempre aqui.
— Mas tu fazes o que as outras avestruzes fazem — dizia o pardal.
— Não faço nada! A Zuzi penteia as penas com elegância, a Zazá organiza os
comedouros, e eu… eu sou apenas uma avestruz estúpida.
— Não digas isso de ti! — exclamava Tito.
Os dias iam passando, até que, certo dia, as avestruzes foram
acordadas por um cheiro estranho. Um cheiro que nunca tinham sentido, mas que
as deixava ansiosas e em alerta.
Sem saber como, Lena gritou para elas:
— Meninas, corram todas atrás de mim, o mais depressa que conseguirem!
As avestruzes seguiram-na até à cerca e ficaram paradas, sem saber
o que fazer.
Lena respirou fundo e disse:
— Recuem dez passos, depois corram o mais rápido que puderem e saltem a cerca,
amigas!
Bloqueadas pelo pânico que aquele cheiro lhes causava, as
avestruzes obedeceram exatamente ao que Lena lhes disse.
Do outro lado da cerca estavam uns humanos vestidos de vermelho,
com uma cobra que cuspia água. Apesar do medo, as avestruzes mal pensaram
nisso. Atrás dos humanos estavam os tratadores, prontos para as acolher e
acalmar.
Quando tudo ficou mais tranquilo, Tito aproximou-se de Lena.
— Uau, amiga, vi tudo de cima da árvore!
— O que foi? — perguntou Lena.
— Foste uma autêntica líder e, com a tua coragem, salvaste as tuas amigas de um
incêndio.
— O que é um incêndio?
— É aquilo, Lena: uma luz muito quente que destrói tudo por onde passa.
Nesse momento, Lena sentiu pela primeira vez um calor no coração,
um calor que lhe trouxe alegria e lágrimas ao mesmo tempo. Pela primeira vez,
Lena sentiu orgulho de si própria
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